O canto das cigarras no Jardim de Palma

Por estes dias de calor - mais de 33 graus à sombra - , o canto das cigarras ganha outro encanto na Lisboa cheia de turistas e gente a banhos na outra margem do Tejo. No Jardim de Palma, ali para as bandas de S. Domingos de Benfica, entre o Eixo Norte/Sul, acessos à Católica e ao Hospital de Santa Maria, o passeante só terá de ter sentidos despertos e tempo para escutar sonoridades perdidas nos tempos. No velhinho jardim de Palma, a pedir cuidados vários lá estão, ainda, as mesas de pedra dos piqueniques e onde alguns idosos "matam o tempo" com jogos da sueca, a par de pequenos estendais de roupa da vizinhança. Em redor do espaço ajardinado, a toponímica feita de nomes bonitos assinala ruelas estreitinhas e sem trânsito como Rossio de Palma. Ao lado, algumas casinhas simples habitadas por gente idosa, herança e memória das antigas comunidades operárias do século XX. Só não se sabe por quanto tempo mais ficarão de pé. No mesmo perímetro urbano, observam-se dois estabelecimentos de comércio, uma antiga carvoaria transformada em restaurante recomendável com peixes e mariscos frescos (Carvoeiro de Palma) e por perto, o campo pelado do Sport Futebol Palmense (um século de História ao serviço do Desporto) palco de ensaio e de sonhos de futuros craques do pontapé na bola, como Paulo Bento, ex-treinador do Sporting. O tempo parou por estas bandas. Podia muito bem servir de cenário a um qualquer filme neo-realista de Fellini, mas no século XXI de grandes apetites imobiliários, este pequeno espaço feito de afectividades e gente simples, arrisca-se a ser um dos poucos locais de Lisboa onde o canto (e a magia) das cigarras provoca nostalgias. E marca o ritmo de outros tempos.



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