O Douro de Torga à espera das vindimas




O Douro de Torga continua a atrair e encantar turistas de todo o Mundo. De barco, carro ou de comboio (uma viagem Porto/Régua, ida e volta, fica pela bagatela de 13,15 euros) a sua observação suscita sempre encanto e magia. Por estes dias, enólogos, donos de quintas e produtores de vinhos, trabalhadores sem direitos e pagos à jorna, deitam contas à vida. E olham os patamares e solcalcos onde, em meados de Setembro e debaixo de sol abrasador vão cortar os cachos de uvas. Antes da colheita e dos cestos serem transportados para as cubas de aço, um salto ao Alto Douro Vinhateiro, cada vez mais cobiçado pelos grandes grupos internacionais de vinhos (espanhóis incluídos) que, têm sabido tirar partido e proveito da classificação de Património Mundial da Humanidade.

Passam poucos minutos das 13,30 h e o comboio vindo de Campanhã acabou de entrar na gare 2 da estação de Ermesinde. As carruagens vão à pinha e os passageiros acomodam-se como podem. Numa delas, vai um casal de velhotes que, depois da insistência da filha decidiu, pela primeira vez, viajar até ao Douro. "Lindo, lindo", repete a senhora de lenço florido na cabeça a esboaçar ao vento. Uma hora depois, o rio começa a serpentear a paisagem. Há mais vozes e máquinas digital em punho. A Ponte de Mosteirô (desenhada por Edgar Cardoso) entre Baião e Cinfães dá nas vistas, mais ainda, quando surge o vale do Douro, as primeiras casas nos montes e pequenas quintas. O calor sufoca, só a paisagem exorta os sentidos. O comboio prossegue a sua marcha e deixa para trás Caldas de Arêgos, dantes conhecida pelos seus famosos banhos termais.
Olhando pela janela, aparecem cada vez mais socalcos antigos e outros ainda em construção, pinhascos, montes e vales, vinhedos à espera do dia e hora da vindima. Antes do comboio apitar e seguir viagem até à Estação da Régua, as carruagens afrouxam no antigo apeadeiro da Rede (onde existe o Solar da Rede, com risco de Nazoni) e Caldas de Moledos. A Régua está à vista e cheia de turistas. Só a beleza da paisagem consegue esconder a fealdade e o péssimo urbanismo citadino.
Chegados ao cais e com alguma informação útil no bolso, a primeira paragem fica logo à saída do comboio. Mesmo ao lado da estação da CP, não hesite em entrar no edifício da Rota do Vinho do Porto (um velho sonho do meu amigo António Manta Mergulhão, a quem o Douro muito deve) e provar alguns néctares da região duriense. Como os vinhos caros nem sempre são sinónimo de qualidade, por estas bandas poderá comprar alguns vinhos a preços convidativos. Como sempre, basta ter alguns conhecimentos e olfacto aberto à curiosidade.
Se o dia estiver pouco convidativo para grandes passeatas a pé (na Régua, os termómetros chegam a atingir nesta altura 35 graus) arrisque a entrar na Casa do Douro e por lá, fique a admirar os bonitos vitrais do pintor e Mestre Lino António. Na saída, poderá ainda comprar tintos e brancos de alguns produtores da região. Mesmo sem saber nada da história desta casa (atenção: existem trabalhores sem receber salário há 8 meses!) o turista menos apressado não deixará de ficar deslumbrado com a riqueza arquitectónica da Casa do Douro, dantes grande e poderosa, agora com dívidas e a viver dias complicados.
A poucos metros deste organismo dos produtores de vinhos da Região Demarcada do Douro, fica o Museu do Douro, antiga sede da Real Companhia dos Vinhos do Alto Douro que, após a sua requalificação foi transformado em espaço de memória, estudo e divulgação do património da Região Demarcada do Douro. Por lá, existem outras ofertas para contemplar os sentidos: uma mostra/homenagem ao catalão Tàpies; outra dedicada ao Mestre Joaquim Lopes (será curioso verificar como a paisagem duriense foi-se moldando ao longo dos tempos, depois do Douro cerealífero, surgiram muitos anos depois, os socalcos e patamares cheios de vinhedos) e a terminar, a exposição permanente intitulada "Memória da Terra do Vinho".
Se o relógio permitir, não deixe de saborear um cálice de vinho do Porto no terraço do Museu do Douro e fruir a paisagem. Talvez, quem sabe, possa servir de aperitivo para outras incursões ao "Reino Maravilhoso" admiravelmente descrito por Torga. E, então, com mais tempo partir à descoberta das quintas, palácios, monumentos, paisagens vinhateiras de uma região única e, onde todos os anos, são produzidos alguns dos melhores vinhos do mundo.



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