"Eles comem tudo"


Em tempos de crise política, económica, social e cultural, lembro-me sempre de José Afonso e da sua canção "Eles Comem Tudo", mil vezes entoada nos anos 70,  símbolo de luta contra o Fascismo e a Ditadura.  Mudam-se os Tempos, Mundam-se as Vontades, mas as mentalidades não mudaram  muito. Sim, existe  Liberdade e já ninguém vai  preso (espero eu!)  por delito de opinião. Porém, 36 anos depois de Abril, a Poesia (já) não está nas ruas e o país que eu sonhei esfumou-se, a utopia deu lugar à revolta e resignação. Já só restam memórias. E tal como aconteceu na I República todos os pecados estão de volta no séc. XXI.  Corrupção - cujo exemplo mais mediático "
Face  Oculta"  revelou a total promiscuidade entre gente de confiança política do Governo, negócios de empresas públicas do Estado,  altos dirigentes do partido do Governo (PS) ministros e gente influente da política - compadrio,  tráfico de influências, despotismo. Em síntese:  nos últimos anos foi montada uma rede clientelar de interesses cruzados com gente da política - geralmente figuras pardas do PS e do PSD - , à mistura com negócios, empresas e afins.  Até a Justiça deixou-se instrumentalizar politicamente.
Os piores vícios vividos na I República voltaram a emergir. Em toda a força e hoje, os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres, a classe média exaurida, sufocada e sem dinheiro para fazer face ao aumento do custo de vida e a prestação da casa. Não admira pois que, cada vez mais gente recorra a instituições de solidariedade social para satisfazer necessidades básicas, como comer uma simples sopa, ou ao Banco Alimentar Contra a Fome para pedir ajuda. Só quem vive no País das Maravilhas, como o dito engenheiro, seus ministros e titulares de cargos públicos, ainda não deram conta que o país que dizem defender afunda-se em terríveis desigualdades sociais, com uma Justiça a fazer que anda mas não anda, com milhares de processos por resolver há vários anos (Medina Carreira garante há mais de 10 e 15 anos e o fiscalista sabe do que fala...) e com uma  máquina judicial lenta, caríssima e desigual.  Depois, os negócios, sempre e sempre os negócios entre o Estado e os privados, onde lucam sempre as empresas em detrimento do interesse público. Vejam-se a catadupa de Parcerias Público-Privadas ensaiadas desde os tempos de Guterres até agora e facilmente se verificará  que o Estado ficou sempre a perder. Muitos e muitos milhões de euros. Nas concessões das auto-estradas, nos hospitais, em investimentos milionários.  A este respeito, aconselho uma breve leitura do livro do juiz jubilado Carlos Moreno, onde com clareza e sustentabilidade técnica, demonstra o despesismo, a incompetência das pessoas que, em nome do Estado, assinaram contratos onde o Estado ficou sempre a perder e os privados sempre a ganhar milhões de euros. Como nada é feito ao acaso, aqui vamos nós a caminhar para o abismo, culpando os "mercados"  pela nossa tradicional falta de rigor nas contas públicas, onde gastamos o que temos e o que não temos, hipotecando as gerações futuras com obras sumptuárias, tipo TGV,  novo aeroporto, nova ponte sobre o Tejo, barragens de Norte a Sul. Neste cenário, o Orçamento de Estado de 2011 é mais um peça de opereta na tragicomédia em que a medíocre classe política transformou Portugal.
E como as considerações já vão longas, deixo algumas breves sugestões sobre o Orçamento do Estado e cujo texto está a correr na Net.  Como antigamente se dizia, A Bem da Nação. 

"Todos os nossos governantes falam em cortes das despesas, mas não dizem quais...e falam em aumentos de impostos, a pagar pela malta...Não ouvimos foi nenhum governante falar em:. Redução dos deputados da Assembleia da República e seus gabinetes, profissionalizá-los como no estrangeiro.. Reforma das mordomias na Assembleia da República como, almoços com digestivos a € 1,50.. Acabar com os milhares de Institutos que não servem para nada e tem funcionários e administradores com 2º ou 3º emprego.. Acabar com as empresas Municipais, com Administradores de milhares de euros mês e que não servem para nada.. Redução drástica das Câmaras Municipais, Assembleias, etc.. Redução drástica das Juntas de Freguesia.. Acabar com o pagamento de € 200 por presença de cada pessoa nas reuniões das Câmaras e € 75 nas Juntas de Freguesia.. Acabar com o Financiamento aos Partidos.. Acabar com a distribuição de carros a Presidentes, Assessores, etc, das Câmaras, Juntas, etc que se deslocam em uso particular pelo País. No estrangeiro isto não acontece.. Acabar com os motoristas particulares 20 h/dia.. Acabar com a renovação sistemática de frotas de carros.. Colocar chapas de identificação em todos os carros do Estado.. Acabar com o vaivém semanal dos deputados dos Açores e Madeira e, respectivas estadias em Lisboa em hotéis cinco estrelas.. Controlar o pessoal da Função Pública que nunca está no local de trabalho e que faz trabalhos nesse tempo, para o Estado.. Acabar com os milhares de pareceres jurídicos, caríssimos.. Acabar com as várias reformas por pessoa, do pessoal do Estado. Pedir o pagamento dos milhões dos empréstimos dos contribuintes ao BPN e BPP.. Aprovado o Orçamento, a explicação no fim do ano dos respectivos desvios para mais.. Redução nos altíssimos ordenados de deputados, de gestores e de servidores de empresas estatais. (5%... é nada). Acabar com os subsídios oferecidos a imigrantes quando regressam a seus países de origem.E por aí fora...Isto não pode parar. Nós contribuintes pagamos tudo. Não temos culpa".  

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