Lua iluminou viagem pelas ruas do Porto


 
 
 



Foi uma autêntica aula de história e de geografia urbana, anteontem, à noite,   oferecida pelo professor A. Rio Fernandes (catedrático de Geografia da FAUP) a mais de 30 estudantes, curiosos da cidade de Agustina que teimam em perceber como nasceu a Portucale,  a importância de Vímara Peres, mais os lugares de antigos mercadores e as razões das trocas comerciais com a Inglaterra, quase sempre feitos através do vinho do Porto e dos néctares produzidos no Alto Douro Vinhateiro.  Tendo por companha as estrelas e os neóns da cidade deserta, os viajantes da  noite partiram junto ao café Piolho (e da inestética estrutura de aço e vidro construída com a autorização da Câmara e o beneplácito dos senhores do IPAR em zona histórica protegida...) , atravessaram o jardim da antiga Cordoaria (hoje Campo dos Mártires da Pátria) e desceram a Rua de S. Bento da Vitória, onde lá está o mosteiro dos frades beneditinos, a bonita igreja barroca e detiveram-se diante de uma paisagem única do Porto, com o Douro a seus pés, a Ribeira de Gaia, mais os armazéns do vinho do Porto. "Aqui travaram-se duros combates entre liberais e miguelistas durante as guerras napoleónicas. A fachada da igreja ainda preserva esse testemunho dos tiros dos canhões",  lembrou o geógrafo Rio Fernandes.
Depois, como a noite era longa e o caminho feito de altos e baixos, recantos, recordações e memórias,  os passeantes subiram à Rua de Pena Ventosa,  passaram ao lado de uma das muitas casas onde Camiho viveu, admiraram os vestígios do antigo Arco de Santana (admiravelmente descrito por Almeida Garrett) , deram uma vista de olhos na recuperação exemplar feita na artéria e voltaram a atrevessar  a Avenida da Ponte (que desde os anos 50 permanece uma obra inacabada) . Cansados mas felizes, os passseantes ainda tiveram tempo para lamentar a ausência de um projecto consistente para a reabilitação do Mercado do Bolhão (uma dor de alma que a cidade e os turistas não entendem como foi possível chegar a tanta degradação...) e detiveram-se perante a polémica intervenção de Siza Vieira na Avenda dos Aliados. "Mais parece uma praça concebida ao velho estilo estalinsita";  ouviu-se. "Nem um flor, uma rosa, um canteiro. Agora, puseram um lago tipo piscina para a criançada brincar".
A noite já ia longa. 
Em Cândido dos Reis e na Galeria de Paris ainda serviam cerveja em copos de plástico, mas a nossa maratona terminou  como começou: na Cordoaria, cujo jardim foi desenhado pelo paisagista alemão Emídio David. E foi diante da estátua de Ramalho Ortigão, do bronze de António Nobre e tendo por companhia as notáveis esculturas do catalão Juan Muñoz que uma ceia reconfortante animou o corpo e a alma  dos resistentes. Pudera: entre outras iguarias de fazer crescer água na boca, surgiu um vinho divinal (da Herdade da Cartucha) e até as estrelas brilharam com mais luminosidade.

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