Na cidade romana de Tongóbriga


Escavações arqueológicas permitem conhecer uma civilização com dois mil anos de história
Tongóbriga é uma cidade romana com dois mil anos de história. Neste território repleto de património e memórias, as escavações arqueológicas já permitiram visualizar parte deste mosaico civilizacional: zonas habitacionais, um fórum, as termas, o templo e, fora da muralha, a necrópole. Foi um povo sábio e culto. "Está tudo inventado. Só precisamos de adaptar os conhecimentos deixados à nossa contemporaneidade", lembrou Lino Tavares Dias, director da Estação Arqueológica do Freixo, Marco de Canavezes. 
Ao todo, são 50 hectares de território, mas só um pequena parcela foi objecto de escavação, estudo e tratamento. Trinta anos depois dos primeiros achados terem revelado uma parte do espólio da cidade romana - localizada na periferia do Império (Roma) e a meio caminho de Finisterra (Galiza) - , Tongóbriga continua a dar-nos aulas de civilização e conhecimento. "Gostaríamos muito de levar as pessoas a perceber o modo como evoluiu a construção da paisagem ao longo dos séculos, sobretudo, a qualidade da arquitectura e engenharia no séc. I e II", adianta Lino Tavares Dias, director da Estação Arqueológica do Freixo.
Pese embora as dificuldades financeiras, falta de vontade política em fazer avançar o projecto e, deste modo, dar-lhe outra consistência patrimonial, Tongóbriga transmite ao visitante vivências e segredos milenares. "É curioso verificar que no séc. I as pessoas viviam em casas cobertas de colmo e um século depois, já existiam grandes construções ortogonais, com quartos, salas de refeições. Existe uma mudança no tempo e no espaço", observou.
Cidade romana servida por zonas espaciais distintas - levando, por isso, os investigadores a concluir a existência de uma cidade bem planeada para servir os fins em vista e os 2500 habitantes -, o visitante fica, porém, deslumbrado perante o complexo sistema das piscinas, sauna e balneários, com zonas de águas frias (frigidarium), tépidas e banhos quentes. "Até colectores e rede de esgotos existiam. Era uma cidade muito bem desenhada para a época. Por exemplo, o fórum tinha grandes dimensões, mas não foi por acaso, já que, servia de pólo de atracção para as populações vizinhas", recordou.
Estação arqueológica visitada anualmente por cerca de 5000 pessoas, a maior parte dos quais, das escolas do Porto e da Região Norte e "turistas de todas as partes do mundo", Lino Tavares Dias, só lamenta a "sucessiva falta de ambição do Estado" na construção do sempre adiado projecto de musealização e divulgação da herança cultural deixada em Tongóbriga.

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