O que seria o Porto sem a Casa da Música?


Como seria a vida artística do Porto sem a Casa da Música? Com toda a certeza uma urbe mais cinzentona e pobre em termos culturais, uma cidade sem projecto  consistente, atractividade nacional e internacional. Meia dúzia de anos de pois da sua inauguração, a Casa da Música (CdM)  transformou-se num espécie de Meca da todas as músicas e sons (com predomínio para o reportório clássico) local de culto de milhares de melómanos, passagem de turistas que, de manhã à noite e digital em punho ficam maravilhados perante a singularidade do edifício desenhado pelo holandês Rem Koolhaas. Como longe vão as críticas ao “meteorito arquitectónico” e as derrapagens financeiras do projecto fazem parte do passado, não existem hoje muitas dúvidas quanto à enorme importância pedagógica, musical e cultural da CdM.
Face ao êxito e internacionalização da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, dirigida pelo maestro Christoph Konig, bem como ao reconhecimento obtido pelo público e crítica aos diferentes agrupamentos residentes (Remix Ensemble Casa da Música / Orquestra Barroca Casa da Música/ Coro Casa da Música) e ao importante contributo prestado pelo Serviço Educativo (sem esquecer os concertos de êxito garantido e público fiel do Clubbing) percebe-se mal o som das trompetas a anunciar a diminuição das transferências anuais do OE: em vez dos 10 milhões de euros previstos e contratualizados com o Estado  existam cortes estimados em 30 por cento. Contas feitas,  a CdM  arrisca-se a receber no próximo ano apenas sete milhões de euros.
“O que temos pela frente é a possibilidade da programação externa da Casa da Música ser substancialmente reduzida para 2012 e, mesmo para além dessa diminuição de programação, a gestão financeira da fundação pode tornar-se numa situação financeiramente insustentável”, denunciou há dias, o deputado Honório Novo, do PCP, em conferência de Imprensa realizada no Porto. Resta saber como irá decorrer a discussão na especialidade do OE e como será assegurada no futuro a manutenção da qualidade da programação e a continuidade da internacionalização da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música que, depois da digressão ao Benelux tem prevista na próxima Primavera uma digressão à China. Com os cortes orçamentais como pano de fundo,  existe uma certeza em termos de programação: depois dos EUA,  2012  será o ano da França.
Com algum ruído à mistura não deixa de ser curioso que os cortes previstos sejam anunciados numa altura em que a CdM  festeja a sétima edição do ciclo À Volta do Barroco, com os concertos da sala Suggia sempre lotados e aplausos de milhares de espectadores. Aconteceu no passado sábado, com o agrupamento dirigido pelo reconhecido violinista Giuliano Carmignola e voltou a acontecer no Domingo, com a audição de “O Messias”, de Handel,  cuja direcção musical e cravo estiveram a cargo de Laurence Cummings. A reconhecida obra foi acompanhada pelos solistas do Coro da Casa da Música. Para hoje, mais música do período barroco fará as delícias dos seus apreciadores: na sala Suggia (21 horas) prevê-se o concerto com o agrupamento Freiburger Barockorchester e amanhã, sábado (18 horas) será a vez da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música interpretar peças de Mendelssohn, Stravinski e Heitor Villa-Lobos, entre outros. No Domingo, o programa será inteiramente preenchido com música de cravo por Rinaldo Alessandrini e a terminar (dia 15) actuará a conhecida Orquestra Barroca da União Europeia. Será a apoteose de um ciclo (Barroco) enquanto não chegam outros compassos que permitam retomar a “Ode à Alegria”.


Nota: No passado sábado  reuniram-se na CdM  alguns dos agrupamentos que fazem parte da Rede Europeia de Música Antiga. A Rema Showcase teve início às 10 horas e após um curto  intervalo para almoço terminou às 17 horas. Foram oito concertos de música barroca com instrumentistas vindos da França, Croácia, Reino Unido, Itália, Bélgica, Escândinávia e Espanha. Portugal esteve representado pelo grupo Ludovice Ensemble. Foram oito horas de excelente música barroca e o bilhete único para as duas sessões custou apenas cinco euros. Em nenhuma parte do Mundo tal seria possível. Parabéns à CdM.   

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