Natal solidário no Hard Club


Não vieram todos à chamada. Alguns, optaram por outros lugares e jantares, mas a centena de homens e mulheres sem-abrigo da cidade que pela primeira vez entraram no Hard Club (antigo Mercado Ferreira Borges, um eloquente exemplar da arquitectura do ferro e vidro do Porto)  sentiram por uma noite e à mesa mais conforto, partilha e amizade. Pelas sete horas da noite já as mesas improvisadas e decoradas estavam prontas para receber os convidados. Sentaram-se e rapidamente o ruído aumenta provocado pelas conversas. Antes, já algumas dezenas de voluntários e voluntárias, algumas delas acompanhadas dos filhos tinham efectuado mil e uma tarefas inerentes à consoada de Natal. “Não esqueçam de tratar as pessoas pelo seu nome. É fundamental. Eles e elas têm de sentir bem. Como se estivessem em nossa casa”, alerta uma das responsáveis da iniciativa, a Leiloeira Leilocoo, mais a Câmara do Porto e várias empresas solidárias com a causa.
A todos foi servido um prato de batatas com bacalhau, hortaliças, cenouras, mais a tradicional sobremesa composta por bolo-rei, aletria, rabanadas e outras iguarias da quadra natalícia. Nem o café faltou no final da refeição. Muitos, repetiram a dose e outros levaram embalagens do tradicional prato da gastronomia nacional. “Gostei muito. Enchi a barriga e fui muito bem tratado. Gostava que todos os dias fosse assim”, contou o Filipe (nome fictício) empregado de uma churrascaria portuense. “O meu patrão despediu-me e eu fiquei sem trabalho. Mergulhei no vício do álcool e dei por mim a dormir num prédio abandonado”. Em frente da mesa e em amena cavaqueira, um homem alto, senegalês de origem bebia café atrás de café. “Nesta noite não quero ter sono. Gostava de prolongar o encontro até de manhã”.
No final do repasto distribuíram-se agasalhos, mantas e cobertores, prendinhas. Todos ficaram felizes pela iniciativa. Até o grupo de voluntários ficou grato por ajudar a servir quem mais precisa. “Estou mais rico na saída deste lugar ”, contou um dos participantes. A maioria dos jovens e menos jovens desta causa  não eram conhecidos e vieram ao  jantar solidário através das redes sociais. Sabiam de uma coisa: a solidariedade não se anuncia, pratica-se.


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