A luz voltou à mais antiga oficina de vitrais


A mais antiga oficina de vitrais do país, a Vidraria Antunes, fica no Porto e esteve em riscos de fechar. "Sim, foi uma fase má, mas a continuidade está assegurada", disse, espelhando satisfação, João Aquino Antunes, neto de Plácido Antunes, fundador desta casa de prodígios e iluminada pela criatividade.
Agora, no número 19 da Rua de Vilar, por entre estantes a abarrotar de desenhos, projectos, maquetas com um século de história e vitrais de grande valor artístico projecta-se o futuro Museu do Vitral do Porto. "É um sonho para cumprir em 2010", apontou João Aquino Antunes, professor, pintor e mestre da arte do vitral.
Já não há tempo a perder nesta casa feita de memórias e preciosidades. Aqui, o tempo corre devagar, sem pressas, com amor a um ofício em vias de extinção, sem seguidores e poucos estudiosos. "É uma arte feita em silêncio conventual, em ambiente de grande tranquilidade. O vidro é uma matéria muito frágil. Requer muita paciência e precisão", aconselha o professor.
Franqueada a porta de entrada do prédio, a sala de estar da antiga residência e ateliê transformado em museu, dá a conhecer várias colecções de vitrais feitos para igrejas, uma delas para os Estados Unidos da América, imagens da via sacra concebidas para a capela de Romeu, uma pequena aldeia de Mirandela, mais desenhos do mestre Guilherme Camarinha, Resende, Amândio Silva, preciosidades sem cotação na bolsa dos afectos.
Nas outras dependências e pisos do edifício, quer nas paredes ou em cima dos móveis de "art déco" lá estão objectos ligados ao vitral, desenhos com a assinatura de Dórdio Gomes, centenas de vidros, protótipos de esculturas, diplomas, um deles da primeira Exposição Colonial Portuguesa, em 1934, realizada no Palácio de Cristal, mais painéis de vitrais concebidos ao longo dos anos, entre os quais, para a igreja dos Congregados e Livraria Lello, ambos no Porto.
Quanto o JN questiona o destino deste património único no país e na Europa, o herdeiro da família Antunes exibe sinais de contentamento. "Durante algum tempo, encarou-se a hipótese de fechar a casa. Depois, tivemos apoios do meu afilhado [João Faria Dias] e de alguns docentes da FBAP. Temos um século de história, um legado patrimonial a defender", diz. Agora, a mais antiga oficina do país terá continuadores da arte do vitral, entre os quais, dois trabalhadores herdeiros de um saber feito de segredos, conhecimentos e infinitas paciências.
 

Comentários