Correntes d`Escrita ano XII

No ano passado, por esta altura, aterrei literalmente na Póvoa de Varzim para assistir à conferência de Eduardo Lourenço, um dos raros pensadores do nossa contemporaneidade, para ouvi-lo discretear sobre a escrita e a literatura, Portugal e a Europa do séc. XXI. Foi uma reflexão única e singular. Na próxima quinta-feira, dia 23, o galardoado ensaísta e autor de umas vastíssima obra literária e filosófica e que, em boa hora, a Fundação Calouste Gulbenkian começou a a editar, voltará  à cidade poveira para participar no lançamento da revista Correntes d´Escrita 11 dedicada ao escritor, Prémio Pessoa 2011, autor do mítico “O Labirinto da Saudade”.  Só por este facto já valia a pena dar um pulo ao certame e participar nesta iniciativa promovida pela Câmara local que, ano após ano, conquista cada vez mais público alargando não só horizontes em termos culturais, como  exercendo crescente  influência no mundo do livro e da leitura.

Habitual ponto de encontro entre editores, leitores, escritores e poetas, a programação da próxima edição das Correntes apresenta um lote de iniciativas susceptíveis de atrair milhares de interessados, tais como debates, apresentações de livros, sessões nas escolas entre alunos e autores, uma feira do livro. Além da sessão de abertura e anúncio dos vencedores dos prémios literários (dia 23), prevê-se no mesmo dia, uma conferência a cargo do Bispo do Porto, D. Manuel Clemente e logo de seguida, a primeira mesa-redonda intitulada “A Escrita é um risco total”, moderada por José Carlos Vasconcelos e com a presença dos escritores Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Hélia Correia, Rubem Fonseca. Ainda no mesmo dia, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, será dado a conhecer o álbum “As Ilhas Desconhecidas”/Notas e Paisagens, com textos de Raul Brandão e fotos de Jorge de Barros. Na cerimónia está prevista a participação do grupo A Capella. Como a noite é longa, prevê-se o lançamento de uma mão cheia de títulos, entre os quais, “Às Vezes o Mar Não Chega”, de Sofia Marrecas Ferreira, “Cinzas de Abril”, de Manuel Moya e “Lágrimas na Chuva”, de Rosa Montero, entre outros.
No dia seguinte (24) a maratona de debates começa a meio da manhã (10, 30 h)  com o provocante título “O fim da arte superior é libertar” com as participações de Alberto Santos (presidente da Câmara de Penafiel e escritor), José Jorge Letria e Fernando Pinto do Amaral, entre outros. Depois de mais lançamentos de livros (“O Murmúrio do Mundo”, de Almeida Faria e “Últimas Notícias do Sul”, de Luis Sepúlveda)  a tarde reserva-nos dois debates: um subordinado ao tema “A Poesia é o resultado de uma perfeita economia de palavras” (com a presença de Manuel António Pina, Prémio Camões 2011) e o outro, intitulado “Toda a Literatura é pura especulação”. Presenças anunciadas: Inês Pedrosa, Eduardo Sacheri, Manuel Jorge Marmelo, Pedro Rosa Mendes, Rosa Montero.
Há mais debates a reter: “A escrita  é um investimento inesgotável no prazer”, “Da crise da escrita não se pode fugir” e “As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento”. Além das iniciativas paralelas, cinema e sessões para o público das escolas, existirá ainda espaço para recordar o legado deixado por Maria Lúcia Lepecki, escritora, ensaísta brasileira, profunda conhecedora da literatura dos dois países falantes da língua de Camões. Num mundo sem tempo para quase nada, recordar Maria Lúcia Lepecki e os elevados serviços prestados à cultura do nosso país representa não só o reconhecimento, mas também a homenagem devida a quem tudo fez para divulgar o nosso património linguístico e cultural.

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