"Um Novo Lugar"


Por estes dias está a decorrer em Espinho o Festival Mar - Marionetas, seis anos de vida, uma mão cheia de espectáculos, ateliês, workshops, encontros e muita festa para a miudagem. Como os jornais andam distraídos com outras coisas importantíssimas para o país – como o “frio polar” e o feriado de Carnaval  - o certame arrisca-se a meia dúzia de linhas a uma coluna de jornal.  Porém, lá dentro presta-se homenagem a João Paulo Seara Cardoso, director artístico do Teatro de Marionetas do Porto, actor, encenador, escritor de livros para crianças e jovens. Quem tiver a maçada de descer as escadas do Centro Multimeios de Espinho, conhecido pelo edifício em “forma de navio” dá de caras com personagens familiares da peça de marionetas “A Cinderela”, como A Fada Madrinha e A Madrasta, mais a Irmã Genoveva, a Cinderela Princesa e como não podia deixar de ser o Príncipe que, em 2009, João Paulo Seara Cardoso concebeu para o Teatro de Marionetas do Porto. Ao lado dos encantadores bonecos de estimação, uma instalação com uma marioneta suspensa intitulada simbolicamente  Alice [no país das maravilhas, de Lewis Carrol] acompanhada de uma legenda [Um Novo Lugar] traduz a homenagem possível naquele lugar: o trabalho, a criatividade, o fulgor e a memória de um homem bom, generoso, afável. “Onde quer que esteja estaremos sempre gratos pelo seu trabalho”, partilha comigo uma jovem animadora do Multimeios. Acrescento eu: o legado histórico e patrimonial deixado por João Paulo permitiu não só resgatar da poeira o teatro de marionetes, como colocou este género teatral no patamar que merece, já que, através de criativas e originais produções recriou o mundo de sonho e fantasia deixados pelo “Teatro dos Robertos” da minha infância e que eu vezes sem conta observei nas feiras e romarias do Porto.
Muitos anos depois deixei-me envolver pela antiga tradição de bonecreiros e foi no Teatro de Belmonte que pude apreciar espectáculos únicos e encantadores como “Miséria” (1991); “Vai no Batalha” (1993); “IP5” (1995);  “Os Encantos de Medeia” (2005) para só cintar algumas peças que ficam para sempre no imaginário e lembrança do enorme talento de João Paulo Seara Cardoso.
Em tempo de memórias resta acrescentar um facto relevante: pese embora a crónica falta de apoios oficiais, estão a ser desenvolvidos todos os esforços para abrir “o mais breve possível” o Museu de Marionetas do Porto, à Rua das Flores e cujo espólio de 1200 peças será composto por marionetas, cenários, adereços.  Mais do que um sonho do seu criador, será a grande homenagem que algum dia os amigos e o teatro poderão prestar ao encenador João Paulo Seara Cardoso.



Comentários

  1. Belíssima crónica e belíssima homenagem a João paulo Seara Cardoso!
    Sem dúvida que os espectáculos nela citados foram maravilhosos e ajudaram-me, muitos deles, a sonhar. E os Robertos, esses, encantaram-me também em muitos lugares da cidade invicta, como o jardim da rotunda da Boavista - histórias dramáticas que ensinavam a viajar por dentro.

    Obrigado, meu querido amigo!

    Abraço do, José

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