Fazer teatro ilumina o palco da vida


No dia de abertura da XVI edição do Amasporto 2012 - bonita sigla que  traduz amor à cidade sem nada receber – subiu à cena a peça “Oração”, escrita em 1957 por Arrabal, escritor, dramaturgo e cineasta espanhol, autor de uma mão cheia de filmes, entre os quais, “Vive la Murte”.  A representação tinha sotaque brasileiro: Grupo de Teatro de São Luís, Maranhão e a parábola de felicidade, versus sentido para a vida subjacentes no texto de Arrabal, bem poderá servir de “lei-motiv” para não deixar na penumbra o único Encontro de Teatro Associativo feito no país, cujo evento a decorrer na Associação Recreativa e Cultural Conjunto Dramático 26 de Janeiro, em Ramalde, tem encontrado algumas resistências e também, muita teimosia por quem gosta de teatro amador, que ama e tudo faz sem receber uma simples notícia de jornal.

Antes da representação teatral, ouviram-se outras histórias feitas de dificuldades, incertezas: “Se a Junta [de Freguesia de Ramalde] não  compreendesse o alcance do certame e apoiasse financeiramente a iniciativa, o Encontro de Teatro Associativo não seria possível de realizar”, contou Alfredo Correia, actor e director artístico do Amasporto. Mas, também, escutaram-se frases de incentivo que fazem todo o sentido nestes tempos de crise e perda acentuada de valores: “Fazer teatro ilumina o palco da nossa vida quotidiana”, escreveu Maria Helena Peixoto, na mensagem de abertura deste encontro teatral portuense.
Além do referido grupo proveniente do Maranhão (cuja peça “Oração” teve encenação de Waldir Fernandes) o Amasporto conta com várias participações, entre as quais, a Companhia Teatral Procénio, de S. Paulo, Brasil; Teatro Experimental de Gaia (O Dia Seguinte, do dramaturgo Luís Francisco Rebelo) e da Companhia Teatral de Ramalde (A Peniqueira, dia 30, com encenação de Alfredo Correia). O certame termina no dia 28 de Abril, às 21,30 horas, com a atribuição dos prémios Talma e a representação da peça de teatro de revista “República das Bananas”, da Tuna Musical de Santa Marinha. Contas feitas serão oito espectáculos, mais de uma centena de participantes, duas companhias do Brasil.
Deixo para um fim uma nota pessoal: no século XX existiu no Porto uma instituição cultural importante no domínio da animação cultural e fundamental na formação de jovens actores. Refiro-me ao Grupo de Teatro “Os Modestos”, situado na Rua de Gonçalo Cristóvão. Por lá, encontrei gente do teatro amador e profissional (Diamantino Silvestre, Alfredo Correia, João Guedes, Júlio Cardoso, António Reis, Estrela Novais) e só guardo boas recordações. Por aqui, várias gerações de portuenses partilharam experiências únicas e irrepetíveis no domínio teatral. O prédio serviu ainda de sede e ensaio para vários grupos de teatro independente, mas por desleixo e incúria, encontra-se há vários anos abandonado, em ruínas. Já só restam algumas memórias do passado. Por isso, hoje mais do que nunca, torna-se imperioso acarinhar o Amasporto, um festival feito de gente simples e amante do teatro com alma dentro. 


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