Wim Mertens, arquitectura e memórias



 
Por estes dias todos os caminhos vão dar a Guimarães, Capital Europeia da Cultura. Por dois bons motivos: em primeiro lugar, pela curiosidade em apreciar o belíssimo Centro Histórico que, recorde-se, foi objecto de intervenção arquitectónica gizada  há vários anos pelo arquitecto Fernando Távora (convém lembrar sempre o legado deixado pelo Mestre, já que, foi devido à sua acção e  criatividade que a urbe ganhou outra visibilidade). Depois e não menos importante, enfatizar a excelente oferta cultural levada a efeito pela Guimarães 2012 cuja programação diversificada e atractiva tem procurado captar cada vez mais turistas e numeroso público. Só numa semana, Guimarães esteve ao nível do que melhor acontece em outras capitais europeias. Comecemos pelo excelente concerto (dia 7) de Wim Mertens e da Fundação Orquestra Estúdio, sob direcção do maestro Rui Massena que, durante duas horas, empolgou por completo a assistência do esgotadíssimo Centro Cultural Vila Flor. O concerto teve a estreia mundial da peça “Europa”, uma encomenda da Guimarães 2012 e foram interpretados temas que fazem parte do vasto reportório do compositor flamengo, como “Cire Perdure”,  “Sovereign Abandon” e “Initial Detachment”. Nem foi preciso muito para antever que o piano de Mertens e a jovem orquestra dirigida por Rui Massena tinham conquistado a simpatia do público. Na segunda parte, as palmas voltaram a ecoar com entusiasmo, sobretudo, com “Often a Bird” e já quase a terminar com o conhecido “Struglle for Pleasure”.  Uma noite memorável.

A meio da semana (dia 9) uma das mais prestigiadas instituições da cidade, a  Sociedade Martins Sarmento abriu as portas para prestar homenagem ao escritor e fotógrafo Martins Sarmento, um dos primeiros nomes da arqueologia em Portugal, responsável de escavações levadas a efeito em vários locais do Noroeste Peninsular (Citânia de Briteiros) cuja mostra documental traduz  o olhar peculiar e também aqui pioneiro do fotógrafo Martins Sarmento. Além de um livro/catálogo sobre a vida e obra do arqueólogo , o jornalista e realizador Jorge Campos apresentou o documentário “O Tempo Passado é já Tempo futuro”, baseado nas vivências e na personalidade multifacetada de Martins Sarmento.

Deixo para o fim, outra iniciativa que apela à memória e que traduz também o olhar (ou respeito?) de Guimarães 2012 para uma parte do património industrial da cidade. Pois bem: nas antigas instalações da Fábrica Asa, em Covas, a pouca distância do Centro Histórico, outros usos foram dados aos espaços desactivados. Agora, o Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (CAAA) promoveu na antiga unidade industrial uma mostra documental inaugurada (dia 10) intitulada “O Ser Urbano- Nos Caminhos de Nuno Portas”. A exposição tem como comissário Nuno Grande e constitui “uma  abordagem às diversas escalas e formas de pensar e fazer a cidade”, tendo como horizonte a vida e obra do arquitecto/urbanista Nuno Portas.

Existe uma mão cheia de propostas, sugestões, exposições e roteiros para todos os gostos. Porém, torna-se fundamental percorrer as ruas e o casario do Centro Histórico de Guimarães, contemplar o imenso património em boa hora recuperado pela Câmara local, fruir a cidade, as tascas que ainda sobrevivem às modas, saborear a gastronomia e a doçaria regional.  A cultura também se faz à mesa. 




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