Raúl da Costa: concerto emotivo com palmas e flores



“Quando vim 
pela primeira vez à Casa da Música, em 2006, assistir a um concerto com a minha mãe, lembro-me de lhe dizer: um dia, venho tocar aqui. Eu sabia que isso ia acontecer”, recordou hoje, seis anos depois, o pianista Raúl da Costa, 19 anos, momentos após ter interpretado o difícil concerto para piano e instrumentos de sopro de Igor Stravinsky, na sala Suggia, da Casa da Música (CdM), sob a direcção do maestro Joseph Swensen. Foram 20 minutos de virtuosismo, capacidade técnica e emoção.
Terminada a sua actuação com brilhantismo e palmas prolongadas, Raúl da Costa ainda tentou partilhar com o maestro as flores vermelhas oferecidas pela avó. Veio várias vezes ao palco agradecer as palmas da esgotada sala Suggia e depois, o camarim reservado para o artista prolongou a partitura de afectos com vários amigos em fila de espera desejosos de cumprimentar o jovem músico, receber autógrafos, formular sucessos à carreira do pianista. Entre as quais, a mais a jovem violoncelista do Porto, Madalena Sá e Costa, 96 anos, cuja vida está indelevelmente ligada à história musical e cultural do Porto.

Emoção muito grande

Na pequena sala onde esperou a sua actuação antes de entrar em palco, o jovem músico contou outras notas pessoais: “A primeira vez que toquei na sala Suggia, em 2010, tinha 16 anos. Foi uma emoção muito grande. A sala estava completamente esgotada e o público fantástico. Foi um momento muito bonito na minha carreira e ficará para sempre gravado na minha memória. Tenho uma relação muito afectiva com a CdM. Aqui assisti a grandes concertos e agora, fruto do meu trabalho já não estou sentado na plateia. Assumi grandes responsabilidades. A música é a minha grande paixão”.
Poucos segundos do início da conversa o jovem instrumetista diz: "estou sem tempo", olha para o relógio e tenta arrumar a mala. Dentro de poucas horas estará no Aeroporto do Porto com direcção a Hannover, na Alemanha, onde continuará os estudos de aperfeiçoamento na Hochschule fur Musik/Theater und Medien. Notam-se alguns sinais de cansaço. A curta estadia em Portugal “por causa da Páscoa e da família” foi repartida por concertos realizados em Viseu, Guarda e Chaves, um maester class e estudos da exigente peça de Stranvinsky para o concerto da Casa da Música.
Sem receios quanto ao futuro, o músico mostrou-se optimista e considerou o país "muito mais aberto" em termos de produção e divulgação musical.“Já começam a existir algumas oportunidades para os jovens, mas o caminho não é fácil. Só com muito trabalho, dedicação e teimosia será possível fazer alguma coisa”, disse.
Admirador de Mauricio Pollini, “uma referência sempre presente quando se lembram os grandes intérpretes”, mas também, outros nomes incontornáveis do piano à escala mundial, como Sviatoslav Richter, Michelangeli e Rubinstein - “São todos diferentes, mas ambos completam-se”-  diz.
A curta conversa aproximou-se do fim. Existe mais gente a chegar ao camarim com o propósito de agradecer a actuação do jovem músico. “Os amigos são muito generosos”, repetiu. Depois, foi só arrumar alguns papéis deixados nas mesas, o fato do concerto, os cadernos com partituras. “A música pode ser um modo de vida, mas tem de ser sentida com paixão e emoção”. E despediu-se, com sorriso afável, sem tiques de vedeta, levando o bonito ramo de cravos vermelhos oferecido pela avó quando terminou o concerto na sala Suggia.

O início aos 7 anos

Raúl da Costa começou a estudar piano aos 7 anos. Ganhou vários primeiros prémios em diferentes competições internacionais: San Sebastian, Scriabin, em Paris e mais recentemente, o Concurso Young Pianist of the North, em Newcastle, Inglaterra. Foi, ainda distinguido, por quatro vezes, com a “Melhor Interpretação de obra portuguesa” e premiado no primeiro concurso efectuado pela União Europeia, onde representou Portugal, interpretando o concerto para piano nº 1 de Chopin, com a Orquestra Filarmónica Janácek, sob direção do maestro Theodore Kuchar.
No seu palmarés conta-se, ainda, o facto de ter trabalhado com mestres reputados da cena pianística internacional  como Dmitri Bashkirov, Boris Berezovsky, Galina Eguiazarova, Roger Muraro, Maria João Pires, Miguel Borges Coelho e Artur Pizarro.
Como todos os jovens músicos da sua geração, Raúl da Costa só vem a Portugal para “matar saudades”, satisfazer alguns compromissos em termos musicais. Depois, continua os seus estudos de aperfeiçoamento “lá fora” em diferentes países da Europa e do Mundo, participando em diferentes orquestras e prestigiadas salas de concertos.
Definitivamente, o talento destes instrumentistas ultrapassou fronteiras e foi reconhecido internacionalmente. O mundo musical e cultural destes jovens tornou-se universal.   
Além da obra de Stravinsky interpretada pelo pianista Raúl da Costa, a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música interpretou a "Abertura Helios", de Carl Nielsen, uma comovente peça "Cantus in memoriam Benjamim Britten, de Arvo Part e Fantasia Concertante sobre um tema de Corelli. O concerto terminou em festa com a Sinfonia nº 1, em ré maior, "Clássica" de Prokofiev.




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