Todos os viajantes dignos desse nome já andaram literalmente nas nuvens. Na Invicta, os portuenses são mais felizardos: não precisam de sair da cidade, deslocar-se para locais mais ou menos exóticos para sentir a vertigem da subida, a miragem de um sítio encantador ou experimentar a magia da paisagem.
Bastará, apenas, ter alguma condição física, vontade, prazer pelo desconhecido e depois subir pelo interior da torre da igreja dos Clérigos, expoente do estilo barroco desenhado pelo italiano Nicolau Nasoni e experimentar a sensação de viajar num lugar encantador com os pés assentes no chão. A meio da subida, lá está o carrilhão composto por 45 sinos e até pode acontecer ouvir-se alguma sinfonia desconcertante, tipo “alegro ma non tropo”.
A escadaria em espiral até ao cimo da torre sineira tem 225 degraus e pode demorar o tempo que Deus quiser. Quem lá conseguir chegar poderá admirar o casario do Porto, paisagens urbanas, alguns dos mais bonitos edifícios com história.
Uma nota mais: a construção da torre dos Clérigos começou em 1754 e terminou em 1763, ou seja, foi há 250 anos que a torre imaginada por Nasoni foi abençoada. Para a arraia-miúda ou ricaço da Invicta a torre dos Clérigos foi sempre admirada como um “ex-libris” da cidade, ponto de encontro de turistas de todo o mundo, em média, cerca de 200 mil por ano, dois euros por entrada. Os historiadores e investigadores consideram o conjunto formado pela igreja e torre dos Clérigos como um dos exemplares mais importantes do barroco portuense. Resumindo: clero, nobreza e povo consideram a torre dos Clérigos como monumento único, memória afectiva da cidade, a jóia da coroa no meio de tanta riqueza arquitectónica e artística.
Gostei imenso desta subida à Torre e da viagem de contemplação dos telhados e claraboias do casario da cidade em volta, e o rio ao fundo.
ResponderEliminarDeixo um poemeto para ti, e um abraço de imensa amizade, José
Viagem – o céu pode esperar
olhem-se os telhados da cidade
e respire-se a liberdade do olhar –
a cor e o ar serenos pousam
sobre o aglomerado dos telhados –
a pureza rarefeita das claraboias,
de onde se contempla o teto
do universo, traz intacta certeza:
“o céu pode esperar" – ao fundo,
um pouco de rio propicia a viagem
por dentro da alegria e do olhar –
Nazoni não traçaria melhor o sublime –
(2012.04.14)
José Almeida da Silva