Festivais em tempo de crise



Voltei a Sendim, ao Intercéltico, um dos meus festivais de eleição, às terras do planalto mirandês para fruir sons do outro mundo, apreciar a sua arte e cultura, gastronomia, paisagem, sabores e aromas, uma mão cheia de coisas boas que há 13 anos a editora Sons da Terra/Centro de Música Tradicional e o etnomusicólogo Mário Correia organizam, quase sempre com poucos recursos financeiros, algumas invejas típicas de quem não vê além do nariz e não percebeu a importância cultural do certame.

Este ano o Intercéltico cumpriu a tradição e a qualidade imperou. Entre os concertos (excelentes) até de madrugada dos grupos The Brian Finnegan Quartet (Irlanda), Gwendal (Bretanha), Nuevo Mester de Juglaria (de Castilla y Léon) e dos portugueses Toques do Caramulo e Realejo, registou-se um feito histórico: a leitura integral de “Os Lusíadas” em mirandês, só possível de acontecer graças ao dinamismo de várias vontades, o escritor Amadeu Ferreira, o investigador Fracisco Niebro (que traduziu a obra de Camões ao longo de cinco anos) alunos da Escola Secundária de Miranda do Douro, professores, gente interessada em conhecer a língua e cultura mirandesa.
Como os dias de  Verão são longos tempo, ainda, para participar no Festival de Artes Perfomativas, em Arcos de Valdevez, onde nos Jardins dos Centenários foi possível ouvir falar sobre cinema, assistir a espectáculos de dança, teatro, performance, workshops, ateliers para crianças (realização: Movimento InCriativo/Município de Arcos de Valdevez) dar um pulo ao Festim/Festival Intermunicipal de Músicas do Mundo (Eliseo Parra, em Ovar; o acordeonista finlandês Kimmo Pohjonen, em Estarreja e os Gaiteiros de Lisboa, em Águeda, suscitaram fortes aplausos do público) e assistir ao magnífico concerto da Orquestra Os Músicos do Tejo, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, cujo Festival das Artes programou uma mão cheia de propostas interessantes, cinema, artes plásticas, conferências, encontros. Só para ouvir Handel, Carlos Seixas, Purcel e o excerto de “Les Indies Galantes”, de Jean-Philippe Rameau, já valeu a pena entrar nesta Viagem pela Europa Barroca e fruir a música num cenário encantador. Falta ainda referir a notável programação do Festival Internacional de Música de Espinho (onde voltou este ano o violinista Renaud Capuçon) e o Festival Internacional da Póvoa de Varzim, cujo fecho a cargo da orquestra barroca Gli Incogniti (com a violinista Amandine Beyer em grande inspiração) empolgou a assistência da igreja matriz da Póvoa de Varzim. A crise segue dentro de momentos.






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