Real Imaginado e Memórias


Com crise ou sem crise, todos os anos acontece um certame único no Porto, sem propaganda e grandes cartazes nas ruas, antes com carolice e amor ao cinema. Chama-se Imagens do Real Imaginado/Ciclo de Fotografia e Cinema Documental (já vai na 9ª edição) uma mão cheia de filmes e documentários de grande criatividade produzidos e realizados por alunos e professores do ESMAE. O resultado é surpreendente e estimulantes têm sido as propostas fílmicas e estéticas até agora apresentadas no lotado auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett (BMAG) cujos jardins do antigo Palácio de Cristal serviram de décor a um bonito documentário do pioneiro Aurélio Paz dos Reis.

E como não existe passado sem futuro que melhor exemplo podia escolher para testemunhar este evento único no Porto senão começar por elogiar o trabalho feito por Nuno Tudela, intitulado “Intervenção na Memória”, resultado das filmagens realizadas no Museu do Carro Eléctrico (cujo edifício singular serviu de palco em 2001 das inesquecíveis representações da ópera “Brundibár”, de Hans Krása, executado em Auschwitz, em 1944) e agora, revisitado pelo cineasta em imagens que apelam à memória e preservação da antiga central termoeléctrica de Massarelos. Uma nota à margem: o Museu do Carro Eléctrico existe é um testemunho eloquente do Porto  industrial e visitado por milhares de portuenses e turistas. Porém, será justo destacar o entusiasmo e o papel relevante que teve neste projecto o engº Férrer Loureiro, um homem generoso, de elevada estatura moral e cívica.
Outro filme a apelar à memória  foi  “Martins Sarmento: o tempo passado é já tempo futuro”, de Jorge Campos (realizador, jornalista, professor na ESMAE e autor de vários filmes, entre os quais, um notável documentário sobre a vida e obra de Nadir Afonso) leva-nos a conhecer um apaixonado pela Arqueologia,  mas também um pioneiro da fotografia, escritor e etnógrafo, cujo legado patrimonial está patente na Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães.
Deixo para o fim, outro documentário estimulante feito no feminino intitulado “3 horas para Amar”, da jornalista Patrícia Nogueira, filmado no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, um registo sensível e pungente, sem rodriguinhos fáceis, antes com uma carga dramática e simbólica que nos leva a perceber melhor o dia-a-dia de quatro mulheres, quatro histórias de vida e de paixões. Para hoje e amanhã há mais filmes, documentários, masterclasses, encontros, exposições. Por nada deste mundo percam “Mousier Verdoux”, de Chaplin. E revejam como o passado é futuro.
  

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