Poetria: a poesia em 4000 títulos

Existe no Porto uma livraria única n

o país inteiramente dedicada à divulgação e promoção da poesia e teatro. Chama-se Poetria e fica situada no Centro Comercial Lumière, a Carlos Alberto, com entradas pelas ruas de José Falcão e das Oliveiras. Lá dentro já quase nada acontece: a maioria das lojas fechou, o Cinema Lumière de boa memória, gerido por um exibidor atencioso (Mário Pimentel, um gentleman como poucos que conheci nos tempos da minha cinefilia militante) encerrou portas, a loja de montras coloridas de postais antigos do Porto  e colecções de filatelia também ficou deserta. Resiste, no entanto, há 12 anos para nosso prazer e contentamento a Poetria, 12 metros quadrados, 4000 títulos de poesia, livros únicos de Pessoa, Eugénio, Sophia, Pascoaes, Cesário Verde, António Nobre, Mário de Sá-Carneiro, mas também, outros autores da nossa contemporaneidade, Ana Luísa Amaral, Gonçalo M. Tavares, A.M. Pires Cabral, Al Berto, Almada Negreiros. Uma livraria, melhor, um oásis de liberdade e cultura no meio de tanta indiferença, desolação, abandono. Apetece perguntar: que país de poetas é este? Dina Ferreira da Silva é a alma deste espaço feito de afectos e sonhos. “Por vezes tenho vontade de desistir. Tem sido muito difícil resistir e manter a livraria aberta, ao mesmo tempo que procuro acompanhar as novidades editoriais, mais as sessões poéticas, lançamento de livros, workshops, encontros de leitores e autores. A minha maior riqueza são os livros, a poesia. O estímulo de alguns amigos e poetas tem sido fundamental”.
Centro Comercial Lumière:  há alguns anos atrás, muito antes da palavra crise entrar no léxico nacional chegaram a estar abertas cerca de 25 lojas. Agora restam três. “Uma vergonha. Um espaço tão bonito e central do Porto praticamente sem vida. Os donos não querem alugar as lojas. Este espaço podia ser uma âncora para vários negócios”, diz a responsável da Poetria, uma livraria situada numa zona de alfarrabistas, livros antigos e raridades bibliófilas, entre as quais, a Académica, de Nuno Canavez.
Enquanto tal não acontece, Dina Ferreira da Silva fixou na porta um poema retirado do livro “Os Lusíadas para gente nova” [Vasco da Graça Moura]: “O inimigo, às vezes, é Castela, que nem bons ventos traz, nem casamentos; outras vezes são Mouros na querela com os cristãos em todos os momentos. E depois, pelo Mundo, ao ir à vela, são muçulmanos sempre e os seus intentos. Camões dá nomes feios e cruéis, de que o menos cruel é infiéis”. Quem quiser mais só tem de clicar em www.livrariapoetria.pt
A poesia segue dentro de momentos.

 

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