As bailarinas de Degas


Acontecem sempre coisas inesperadas quando decido partir à descoberta de uma cidade. Grande ou pequena só é preciso ter os olhos e sentidos despertos. Ontem, domingo, Torino amanheceu com sol e dia claro. Depois de um café na Stazzione di Porta Nuova (são uma tentação os bolos da Boulangerie) apanhei a bike em frente ao monumental edifício e lá fui pela Via Nizza até Corso Vittorio Emanuel II, uma longa avenida directa ao Parco del Valentino, um enorme pulmão verde com o rio a serpentear a cidade, prédios do antigo borgo medioevale, mais o castelo e o horto botânico, casas de arquitectura típica da região de Piemonte.
No meio deste frondoso jardim encontrei um pequeno edifício precioso, espécie de caixinha de pó-de-arroz. Até o nome encanta: chama-se Palazzina della Società Promotrice delle Belle Arti, cujos cartazes anunciavam uma monumental exposição dedicada a Degas. A minha curiosidade aumentou. Pensei que só no Musée d`Orsay, em Paris, seria possível apreciar as bailarinas e os retratos do pintor, as suas elegantes esculturas, óleos, entre os quais, “La Famiglia Bellini” (1858-1869) talvez um dos mais famosos quadros do artista cuja obra foi marcada pelo impressionismo e em particular, por Manet, seu grande mestre e amigo. E lá fui observando o estilo e a luminosidade das suas telas, “L´Orchestra dell´Opéra”, “La classe di danza” “Ballerina com bouquet sulla scena”, universos mágicos com passos de dança, retratos de gente da música, como o violoncelista Pillet (1868/1869) e a Orquestra da Ópera, enquanto ia descobrindo as origens de Edgar Degas, a sua trajectória artística, os estudos feitos em Itália e em Paris (no Louvre, apaixonou-se pela paleta de Delacroix) o modo singular como soube posicionar-se face às modas e estilos da época, o lado satírico como captou a vida de Paris, ambientes, personagens, grandezas e misérias da condição humana. Por fim, as exposições no Louvre e o reconhecimento internacional da sua vasta e multifacetada obra. Fiquei deslumbrado e nova viagem está marcada à exposição de Degas. Como diria o sábio Agostinho da Silva “sou especialista da curiosidade não especializada”.

 

 

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