Borgata Garossini
não é mais do que uma minúscula aldeia tipicamente italiana situada a 40
quilómetros de Torino. Para viajantes pouco apressados a distância faz-se em
meia hora. A localidade nem vem no mapa. Só existe na geografia sentimental dos habitantes que teimam em aqui viver. Nos meses de Verão o pico da montanha
transforma-se em refúgio e paraíso. A paisagem é simultaneamente agreste e sedutora.
Quem aqui habita procura o sustento na agricultura e pastorícia. Outros,
paz e tempo para ouvir os sons da
montanha. No Inverno, pouca gente dorme neste lugar inóspito, nevoeiro de manhã
à noite. Observo casas abandonas, outras em ruínas, algumas recuperadas. Com temperaturas quase negativas arrisquei a subir à montanha e após Pinerolo
surgiu Garossini. Por magia, à medida que o carro começou a trepar o enorme desfiladeiro o sol apareceu. Foi uma
espécie de bênção dos céus e a viagem ganhou outra luminosidade, mais ainda
quando observo uma parte da montanha coberta de neve, cartão de visita dos
alpes italianos sempre cheios de turistas amantes do esqui em Valle di Susa e Valle
del Chisone.
Já estou em Borgata
Garossini, mas o meu guia de viagem em Piamonte, levou-me a
descobrir mais coisas de encantar, um enorme campo verdejante onde estão
cavalos, dezenas de aves de rapina, diferentes espécies usadas em feiras e eventos
recreativos da Idade Média, uma pequena loja com artigos, livros, brochuras
sobre a arte da falcoaria. É outra viagem com história. Num lado observo uma
poiana idêntica a uma águia, no compartimento contíguo um ave vinda do continente sul-americano, depois uma águia do Nepal. O entusiasmo redobrou quando
o tratador exibiu um falcão peregrino capaz de voar a 400 quilómetros/hora. “É
uma autêntica máquina voadora”, apontou
Daniele Cominetti, formador e organizador de iniciativas didácticas sobre o
mundo das aves de rapina, responsável nacional da Falconeria a Cavallo. No
final da conversa não resisto em pedir-lhe um cartão com o seu endereço
electrónico (www.ilmondonelleali.com) e com isso, pesquisar
mais coisas na Net sobre esta arte milenar e a aldeia de Garossini.
Indiferentes ao frio, duas turistas
serpenteiam a paisagem passeando de cavalo e lentamente o sol começou a
desaparecer. Como seria bom viver uma temporada nesta pequena localidade rodeada de campos verdejantes e ter o céu por
companhia. E entre outros, reler o livro de Carlo Levi, romancista, ensaísta, pintor, nascido em Torino, autor da bonita parábola "Cristo Parou em Éboli", relato da sua experiência como deportado pelo fascismo italiano na pequena aldeia de Lucânia, no sul de Itália e depois, em 1979, adaptado ao cinema por Francesco Rosi. Retenho as imagens, os sons da planície, a vida agreste de Éboli. Salvaguardando as devidas distâncias geográficas, históricas e temporais também Cristo parou em Garossini.
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