Memórias de Béjart no Teatro Regio


Torino, antiga capital de Itália, cerca de um milhão de habitantes, amanheceu fria quando aterrei e o sol apenas espreitou esporadicamente. Do terraço do último andar vejo uma paisagem deslumbrante, pintada de branco, uma parte dos Alpes italianos, Valle di Susa. Como o tempo é precioso e sou “curioso da curiosidade não especializada” fui ao centro da cidade conhecer as longas avenidas, as arcadas da Via Roma e Via Po, a Piazza Carlo Felice, Muzeu Egizio, Palazzo Madama e Palazzo Real. No entanto, as primeiras horas nesta cidade de desenho romano estão viradas para o Teatro Regio de Torino cujo cartaz anuncia a presença da Béjart Ballet Lausanne e duas coreografias: “Light”, com música de Vivaldi, The Residents, Tuxedomoon; e “Boléro”, de Ravel. Com lotação esgotada tudo ficou mais difícil, mas Giorgio Merlone, “meu amigo do peito” deixou-me tranquilo: o convite estava garantido. As minhas expectativas de vários anos ultrapassaram tudo o que foi possível imaginar em termos de cenário, figurinos,  intérpretes, criatividade. E, por três horas, tive o privilégio de admirar uma das maiores companhias de ballet internacionais, presença assídua nos mais afamados palcos de teatro lírico internacionais. As suas coreografias constituíram uma extraordinária viagem ao mundo da dança e dos sons acompanhados por bailarinos e bailarinas com passos de magia. Tudo foi emocionante e, por isso não resisti a rever, dois dias depois, o magnífico programa no Teatro Regio. “Ligt” teve a sua primeira apresentação em Bruxelas, Cirque Royal, Setembro de 1981; “Boléro”,  Théâtre Royal de la Monnaie, Bruxelas, Maio de 1961. Agora sem Béjart o espírito e o legado continuam através de Gil Roman, director artístico da companhia.

Como a memória continua povoada de imagens belíssimas não descansei enquanto não comprei o duplo CD “La Senna Festigiante”, de Vivaldi, numa excelente gravação dirigida por Claudio Scimone (os vizinhos já devem estar habituados a ouvir “L`alta lor gloria immortale”) e a conhecida obra de Ravel. Pelo menos através dos sons vou visualizando as coreografias de Béjart.
Quem disse que Torino não tem nada para ver andou apressado ou distraído. Sem a grandeza de Firenze, Roma ou Venezia, mantém um núcleo  histórico e medieval de enorme valia patrimonial, nuseus, palácios, livrarias, cafés, teatros antigos, o maior mercado ao ar livre da Europa. Depois, a sorte sorriu-me e pude admirar uma das prestigiadas companhias de ballet do Mundo.

 

 

 

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