Pintura e música com Pollini


Nem a chuva (ou pingos de neve derretida?) arrefeceu o meu entusiasmo por circular a pé pelas ruas de Torino, descobrir mais coisas de encantar numa cidade repleta de património, casas antigas, igrejas e basílicas sempre mais valiosas que as anteriores, palácios, museus, teatros, livrarias, pequenas lojas de comércio tradicional decoradas com bom gosto, sobriedade, requinte. A jornada começou com uma visita à Galleria Sabuada, junto ao Palazzo Reale e logo de entrada encontro "Fiandre settentrionalle”, de Jea van Eyck, pintor flamengo do séc. XV, uma peça valiosíssima coberta com seguro de milhões. Razões: apenas existe uma cópia depositada no Museu de Arte de Filadélfia, EUA. Sigo pelas outras salas da Galleria sempre forradas com pinturas de arte sacra dos séculos XV e XVI, “Madonna com il Bambino”, de Giovanni da Fiesole detto il Beato Angelico (1459; “A Paixão de Cristo”, de Hans Memling (1449) mais frescos de Veneza (1721) de Bernardo Bellotto. Num dos salões mais quadros com moldura dourada de Antoon van Dyck, entre muitos outros autores deste período e escola de arte flamenga.

Como a Biblioteca Reale de Torino, fundada pelo conhecido rei  Carlos Alberto faz parte do Palazzo não perdi tempo e entrei no edifício. Será que ainda podem ser vistos os desenhos de Leonardo da Vinci? “Estão em restauro. Não posso adiantar uma data da sua exposição pública. Vá seguindo a agenda”, disse-me a solícita vigilante enquanto deitava o olho aos turistas de digital na mão: “now foto”. Fico-me pelas plantas da primitiva cidade de Torino, originais de 1400, peças únicas da realeza, como o cofonetto da rainha Margherita di Savoia, manuscritos, têmperas de 1622, pergaminhos de 1593, “A História do Novo Testamento”, de J.J. Blaise (1825); “Livros de Horas”, do rei Anne de Bretanha, traduzido do latim pelo abade Delannay (Paris, L. Curner, 1841), milhares de livros nas estantes, mais zona reservada a investigadores.
A tarde já anoiteceu e a temperatura desceu. Sigo pela Via Pietro Micca e nas arcadas vou fotografando algumas curiosidades: a tabuleta de madeira da antiga Pharmacia Cooperativa, hoje transformada em acolhedor restaurante de comida vegetariana; a  Livraria La torre di Abele (onde só encontro Pessoa e Saramago) e a seguir, a Torrefazione Beccuti, onde saboreio o primeiro café digno desse nome em Torino. No outro lado da Via Pietro Micca (Via Cernaia) entrei na loja Arpa Musica Classica e escolho por 12,5 euros, um duplo CD com algumas das belíssimas sonatas de Beethoven (Pathétique, Moonligth, Appassionata...) com Maurizio Pollini ao piano, gravado para a etiqueta Deutsche Grammophon. Até o jantar teve mais encanto.

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