O bólide de Fangio num Museo histórico

Como foi bom apreciar o design do Maserati 250 F vermelho conduzido por Juan Manuel Fangio, consagrado piloto da Fórmula 1 do século XX e conhecer um pouco mais da história do automobilismo mundial. Fangio venceu o Campeonato do Mundo da F1 em 1957 e  foi precisamente ao volante desta máquina voadora exposta no Museo dell´Automobile de Torino – imprescíndivel para quem visita a antiga capital de Itália -, que o argentino saboreou o triunfo e obteve a coroa de glória, uma carreira longa e vivida a grande velocidade. O palmarés é impressionante: 24 vitórias, cinco títulos consecutivos, participação em 51 grandes prémios internacionais, considerado pela FIA como um dos grandes pilotos de todos os tempos. Morreu em 1995, aos 84 anos. Para a História ficará para sempre a mística e áurea do corredor de eleição da F1. Por isso, não resisti em fotografar o famoso Maserati vermelho que, ao lado do Ferrari 2003 GA, tripulado pelo campeão Michael Schumacher já será hoje mais uma peça de museu dentro de muitas preciosidades, colecções, relíquias dos séculos XVIII e XIX, mais automóveis construídos no princípio do séc. XX, modelos vintage dos anos 30, clássicos para a classe média, Fiat, Citroen, Renault e carros famosos para gente rica, Buggatti, Lancia, Jaguar, Alfa Romeo. A minha viagem pela história e conhecimento do automóvel só agora começou.



Dois cilindros, 4 km/hora

Desta vez sigo as recomendações e subo a escadaria de acesso onde estão expostos os primórdios do automóvel e não deixo de sorrir quando estou diante do “Carro di Cugnot”, fabricado na França, 1769, dois cilindros, quatro quilómetros/hora. Uma preciosidade sem preço. Ao lado, encontro o protótipo “automobile a molla”, de Leonardo, 1478, as experiências de Newton levadas a efeito em 1680, a viatura movida através de propulsão do vento (1714) e outra a vapor (1830) o triciclo  (Peconi) de 1891, mais a “carrozza di Bordino” produzida em Itália (1854) cujo modelo atinge a fantástica velocidade de 8 km/h ou o Peugeot tipo 3M, dois CV, capaz de atingir 35 km/h. E fixo o olhar no histórico Itala 35/45 HP, de 1909,  conhecido “Palombella” especialmente construído para transportar a rainha Margherita di Savoia.
O mundo já começou a pular e avançou em outras direcções. Num corredor vou descobrir o modelo de um velho Panhard & Levassor (França, 1899) com 580 quilos de peso, 12 CV e 60 km/hora,  ao lado, um  Rolls-Royce fabricado no início da I Guerra Mundial (1914) e logo a seguir;  um Fiat de 1906, pintado de azul celeste, dois lugares, descapotável, 4 cilindros e 85 km/h, com travão e buzina fora da carroçaria. Um luxo de carro. Depois, à medida que vou andando e fotografando surgem viaturas cada vez mais reluzentes e sofisticadas para a época, um Rolls- Royce de 1914; um Lancia de 1948 (125 km/h), um Packard de 1937 (USA) com motor de 8 cilindros e 120 km/h, imagens visuais para encantar o visitante, sketches de filmes de todos os tempos sempre com carros a servir de décor, uma vezes com  Buster Keaton e   Chaplin, outras com cenas de Bonny & Clyde, de Artur Penn (com Faye Dunaway, lembram-se?);  Sacco e Vanzetti, uma história real filmada em 1971, pelo italiano Giuliano Montaldo. E uma deliciosa canção de Monroe, no filme de Hawks, “Os Homens Preferem as Loiras” (1953).

O Alfa Romeo descapotável.

Reconfortado pelo abençoado descanso vou continuando a viagem e ao virar da sala encontro  um modelo de Isotta  Fraschinni, Itália, 1929, a viatura escolhida para as filmagens de “O Crespúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder, com a encantadora Gloria Swanson. Como o cinema ajudou a desvendar outras histórias fiquei a saber que o vistoso automóvel possui um motor de 8 cilindros e atingiu 140 km/hora de velocidade. 




Neste museu de automóveis cheio de seduções (quem não gostava de ter um carrinho de competição, Alfa Romeo, 1930, pintadinho de vermelho e descapotável  para sentir a brisa da paisagem?) vou admirando modelos atrás de modelos de países e construtores, mais vídeos e imagens testemunhando alguns acontecimentos históricos ocorridos nos EUA e no Velho Continente, o eclodir da II Guerra Mundial, a construção e queda do muro de Berlim, os carros de Hitler e de Mussolini a circular na Itália Fascista, o nascimento da indústria automóvel italiana em Torino, sede do gigante grupo automóvel Fiat que, em 1962, fabricou o famoso modelo 500,  cuja viatura revolucionou por completo o mercado e constitui um êxito estrondoso em termos de vendas. Considerado uma peça de museu, não deixa de ser curioso o facto da Fiat tenha construído uma réplica do modelo fabricado há mais de meio século e seja ainda hoje um dos carros mais utilitários na Europa. Milagre da tecnologia? Ou do design, baixo consumo e fácil estacionamento?

“O sonho esculpido de uma época”

Itália à parte, deixo-me deliciar pelo meu carro de eleição fabricado em França, um Citroen, 11 CV, de 1934, 100 km de velocidade (como foi bom viajar nesta carrinho pelo Portugal desconhecido) e a seguir prestar a atenção devida ao velho “Boca de Sapo”, Citroen DS 19, suspensão hidropneumática e por todos considerado como uma “verdadeira revolução tecnológica”. Apareceu pela primeira vez ao Mundo em 1952 como um VGD (Veículo de Grande Difusão) e rapidamente foi transformado num objecto de arte e culto. “O sonho esculpido de uma época”, retenho do filme de André Lefébre. No Salão de Paris foi a coqueluche e atraiu olhares de construtores e consumidores: num só ano a famosa marca vendeu 80 mil veículos. Uma curiosidade acidental: foi num Citroen DS 19 que, em 1962,  o general De Gaulle sofreu um atentado…
Há mais uma quantidade enorme de marcas, modelos em exposição, uns mais famosos que os outros como o Cadillac, de 1947 e o Jaguar, de 1969, os carrinhos dos antigos países de Leste (como o Syrena L 105, fabricado na Polónia, 1973) mas não posso deixar de lembrar outro veículo de estimação e objecto de culto para milhares de automobilistas. Refiro-me ao  Wolkswagen, 1952, carinhosamente tratado por “carocha” e ainda hoje valioso automóvel de colecção.
Entre velhas e gloriosas relíquias capazes de fazer sorrir os nossos netos, entre modelos antigos e modernos vai uma distância enorme, quase dois séculos de inovação, criatividade, arte e engenho. Nesta etapa final da visita resta acrescentar um facto: o Museo  delle` Automobile di Torino só foi possível de concretizar graças à visão de dois apaixonados: Cesare Goria Gatti e Roberto Biscartti di Ruffia, primeiro presidente do Automóvel Clube de Torino e fundador da Fiat. O Museo possui fabulosas colecções, mais de 160 modelos originais de 80 firmas construtoras.Existe   desde 1960 e deve ser percorrido ao correr do tempo. Tal e qual como quem folheia um livro. E a meio da página ficou encantado pelo mundo maravilhoso dos automóveis e sua história.



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