Canalletto e Bellotto na Pinacoteca




Quem chegou à estação do metro de Lingotto, em Torino nem precisou de consultar o guia para saber onde fica a Pinacoteca Giovanni e Marella Agnelli, cuja “aeronave de vidro” pela sua dimensão e arquitectura futurista de Renzo Piano tornou-se facilmente identificável. É um ícone na paisagem urbana. Só é preciso atravessar a movimentada Via Nizza, entrar no enorme centro comercial junto à antiga Fábrica de Automóveis FIAT (transformado em hotel de luxo) e vontade de conhecer uma das mais fabulosas colecções privadas do mundo, cinco pisos, várias salas, uma loja de perdição com todos os livros de arte, arquitectura, design, fotografia.
Abandonada a barulheira dos corredores do shopping - ainda estão à vista as iluminações de Natal e por isso, muita gente continua nas compras - a sinalética obriga-nos a entrar pelo elevador envidraçado até aos céus. Neste museu privado construído para fruição pública os diferentes pisos mostram muita arte contemporânea e antiga, peças de incalculável valor artístico e patrimonial.
Para começar encontro pinturas do artista Peter Blake, cuja tela dividida em quatro recebeu o sugestivo título: “Marilyn Monroe, Wellow & Blue”. Dou meia volta e admiro dois quadros de Francis Bacon, um dos mais célebres pintores da segunda metade do séc. XX: “Man in Blue II” e “Self-Portrait”, respectivamente, de 1954 e 1969, ou seja, duas das muitas obras que estiveram patentes na notável retrospectiva apresentada no Museu de Serralves, Porto, 2003. Na saída da sala tempo ainda para apreciar uma imponente peça de Alberto Giacometti, famoso escultor expressionista suíço.





Há muito mais para ver e fruir. Picasso e a sua famosa tela “Nature morte ao crâne et au pot”, de 1943; acrílicos e serigrafias sobre tela de Michael Joo (USA) pintadas entre 1975 e 1966 e na sala contígua, mais pintura de gente jovem e uma fabulosa peça do conhecido artista inglês Walter Potter (1870) intitulada “Happy Family”. Se estou feliz mais fiquei quando admiro no último andar todo envidraçado as pinturas de Giovanni Antonio Canal (Canalletto) com cenas de Veneza setecentista, “Il Canal da Santa Maria della Carità”; “Il Campo dei Santi Giovanni e Paolo”, mais a “Ponte de Rialto” pintada em 1725 pelo traço e paleta inconfundíveis do famoso artista veneziano. Nem consigo chegar mais perto dos quadros, já que a luz vermelha acendeu e provocou alarme (injustificado) na sala vazia de turistas. Nas outras paredes estão pinturas de Bellotto, mais o fabuloso fresco de 1750, onde se admira a laguna, o casario, o “mercado nuovo di Dreda”; Matisse, com obras pintadas entre 1924 e 1948; outra vez Picasso e ainda Modigliani,  Manet, Renoir.
A Pinacoteca Giovanni e Marella Agnelli existe desde 2002 e perpetua no tempo uma parte do legado artístico e patrimonial deixado pelo casal Agnelli, cuja fundação fica situada na antiga e histórica fábrica de automóveis Fiat. Além de exposições temporárias e permanentes, a instituição coloca ao dispor dos interessados salas multimédia e organiza diversos eventos culturais, visitas guiadas para vários públicos, famílias, estudantes e possui um programa especial para as criança. 
Em Setembro de 2012 a Pinacoteca festejou 10 anos de existência e segundo o sítio electrónico da instituição registou, em dois dias, 5000 visitantes. Será preciso dizer mais alguma coisa para percorrer a "aeronave de vidro" rever Canalletto, mais Bellotto e  sonhar com a belíssima paisagem de Veneza?

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