"Entre as Margens" do génio e beleza


Em ano de comemorações dos 50 anos da ponte da Arrábida e por coincidência, o centenário do nascimento do seu criador e pioneiro na construção de pontes, o engº Edgar Cardoso, o Museu Nacional Soares dos Reis abriu portas a uma exposição notável sobre o Douro, intitulada Entre as Margens, cujas salas exibem com particular relevo pinturas sobre o maior arco em betão construído na Europa há meio século, mas também sobre outras pontes que fazem parte do imaginário portuense para sempre imortalizadas por poetas, artistas de diferentes escolas, linguagens, estilos. 

Entre as muitas obras do séc. XIX e arte contemporânea, o visitante será confrontado com representações de engenharia na pintura, entre as quais, uma colecção de desenhos e esquiços do projecto de uma nova ponte sobre o Douro de autoria de Álvaro Siza/António Adão da Fonseca, pinturas de autores com percursos estéticos distintos como Nadir Afonso, Bernardo Marques, Cruzeiro Seixas, Dórdio Gomes, Júlio Pomar, um óleo pintado em 1947, por Jaime Isidoro, trabalhos de Sobral Centeno, Jacinto Luís, António Sampaio, desenhos de Manuel Casimiro. Nesta galeria de notáveis existem algumas relíquias sem preço, como por exemplo, desenhos de Teixeira de Pascoaes, representando a ponte de S. Gonçaço, em Amarante, pinturas pouco conhecidas de António Areal, Vieira da Silva, uma série de preciosidades de Jaime Isidoro, aguarelas de António Cruz – o maior aguarelista que o Porto alguma vez teve até hoje – Eduardo Viana, João Hogan, Dórdio Gomes, mas também, desenhos de António Carneiro, Alvarez, Jorge Martins. Em síntese, ao longo das 120 peças que fazem parte desta retrospectiva, a exposição procura evidenciar a representação de engenharia em diferentes expressões artísticas.
“Neste trabalho de enorme alcance, que é a passagem de testemunho de geração em geração, e onde o registo do nosso comportamento é avaliado mais no futuro do que no presente, como deve sempre acontecer, apraz-nos registar a eloquência desta reunião de esforços e de sorte, em termos uma união entre as margens, de uma elegância indiscutível, num gesto que abraça as terras de Portus e Cale, na entrada do mais magestoso e telúrico rio português: o Douro.
Como entre a Pintura e a Engenharia, ambas as artes e conhecimento, de acepções distintas, servindo a nossa condição humana que as outras artes tentam explicar”, escrevem no catálogo da exposição, Francisco Laranjo (director da Faculdade de Belas Artes da UP) e Sebastião Feyo de Azevedo, director da Faculdade de Engenharia da UP. A exposição é comissariada por Bernardo Pinto de Almeida (FBAUP) e Manuel Matos Fernandes (FEUP) e pode ser visitada até ao dia 25 de Agosto. Em tempo de aniversário de uma das pontes mais emblemáticas sobre o Douro “Entre as Margens” ajuda-nos a compreender o tempo e o modo de olhar a paisagem, mas também um rio cheio de História.

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