Em Quinhámel, uma aldeia do fim do mundo, cerca de 40
quilómetros de Bissau, dantes centro de nevrálgico de tropas, agora um deserto
onde só alguns vão comer ostras fui encontrar uma cabeça de porco à venda em cima do
balcão da mercearia. Nem queria acreditar. Peguei na cerveja e zarpei. Cá fora,
alinhados na berma da estrada, homens e mulheres vendem mancarra, sacos de
carvão, ao lado pão em formato baguete, ovos, frutas, muita banana verde,
algumas papaias, saldo dos cartões para os telemóveis. No meio da confusão
observei olhares desconfiados, galinhas, patos, cabras, bezerros e cães, muitos
cães esfomeados em harmoniosa e feliz convivência. A vida aqui tem outro
sentido. Pelo caminho, milhares de tabancas cobertas com zinco e colmo, homens,
mulheres e crianças debaixo do mangueiro, meninos a jogar à bola em
improvisados campos de futebol, uma tabuleta enferrujada a anunciar uma fábrica
de descasque de arroz, gente transportando a pé bacias de plástico com víveres à
cabeça, no meio do nada o edifício da Escola Básica Boa Esperança, mais à
frente a discoteca M´baim e no centro, separados por curtos metros, lá está a
mesquita pintada de branco, ao lado a igreja católica, outros lugares de culto.
Dou meia volta e observo mais algumas casas de comércio, o bar Pica-Pau, o
restaurante Mar Azul, um centro de artesanato. Pelo caminho fui esquecendo a
vontade de saborear as afamadas ostras. O apetite perdeu-se de vez quando um
negro resolveu tirar-me as medidas e exigiu dinheiro. Nem lhe dou troco. Meia
volta volver e deixo-o a falar só. A carrinha já está de regresso a Bissau.
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