Tem dias que o Aeroporto Internacional da Guiné-Bissau Osvaldo Vieira fica transformado numa babel de línguas. Desembarcam grupos de voluntários de países tão diferentes como o Japão, China, Coreia do Sul, Brasil. Por razões históricas e culturais Portugal e outros países da América Latina ocupam lugar de destaque: em qualquer lado do território estão professores, enfermeiros, médicos, estudantes, padres e missionários de diferentes igrejas e congregações, homens e mulheres apostadas em ajudar quem mais precisa.
Dentro de dias, chegará ao território guineense mais um
grupo de portugueses da Missão Dulombi.
Vêm trabalhar na construção de mais uma escola na aldeia de Dulombi, na zona
Leste do país. Partiram de Vila do Conde há cerca de uma semana, atravessaram o
deserto de Saara, mais a Mauritânia e o Senegal para chegar até à fronteira
leste de Guiné-Bissau. Entre a comitiva participa o fotógrafo Daniel Rodrigues,
prémio de fotografia do Word Press Photo que, entre outros objectivos pretende
oferecer a foto vencedora do prestigiado galardão aos meninos de Bafatá e
permanecer algum tempo junto da comunidade de Dulombi.
“Se não fosse a existência desta rede de cumplicidades, o
trabalho incansável das missões da igreja católica e de outros credos
missionários provavelmente, a Guiné-Bissau já tinha desabado enquanto país. Por
isso, toda a ajuda é preciosa e fundamental. A solidariedade internacional é
fundamental”, traduz uma missionária da Costa Rica há vários anos a viver no interior
do território guineense.
Não é tudo: desde o princípio da semana, a Casa Emanuel,
em Bissau, espécie de retiro da diáspora espalhada pelo Mundo, acolhe mais
portugueses, entre as quais, duas jovens médicas dentistas provenientes do
Norte de Portugal, gente vinda do Brasil, um responsável por uma missão
evangélica, Roberto Senna, de S. Paulo; e mais três pedagogas oriundas de
Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Só ao jantar existe tempo para a conversa.
“Cheguei pela primeira vez a Bissau há três anos e voltei
novamente com a missão de fundar o Instituto de Tecnologia Social que, visa
fundamentalmente avançar com programas de natureza social junto das populações.
Tudo é feito em regime de voluntariado.
Para já, vamos lançar as bases da nossa casa em Quinhamel. Queremos
ajudar a inovar e promover o desenvolvimento”, diz. Como e em que moldes
Roberto Senna responde com uma história ocorrida há algum tempo no interior da
Guiné-Bissau: “Quando estive pela primeira vez no país, um padeiro veio ter
comigo e pediu-me dinheiro para comer. No dia seguinte, ofereci-lhe três sacos
de farinha e fabricou pão. Com o dinheiro obtido pelas vendas o padeiro começou
a ganhar a vida sem empréstimos. A multiplicação dos pães permitiu nunca mais
precisar de dinheiro para matar a fome. Este conceito continua a fazer parte do
nosso dia-a-dia”, precisou. Como está tudo inventado, lembrei-me do célebre
pensamento de Mao, o grande timoneiro da revolução chinesa: “não me ofereças o
peixe, ensina-me antes a pescar”.
Graça Oliveira
veio do Brasil há cerca de um ano e só pensa regressar a Pernambuco em 2014. Já
esteve em diferentes regiões e cidades do país, Gabu, S. Domingos, Varela,
Farim, Bolama. “Gosto muito de estar por aqui. Trabalho com diferentes
comunidades da Guiné e todas elas são hospitaleiras e fraternas. Só tenho de
respeitar a suas culturas, tradições e religião. Vivo em paz”. E como faz para
sobreviver? “Habituei-me a viver com pouco. Uma refeição por dia basta-me. Cada
um encontra o seu caminho de felicidade”.
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