“Há Lodo no Cais”


Existem olhares desconfiados nas ruas de Bissau. Sacar da mochila a máquina fotográfica pode dar direito à intervenção da polícia e, no limite, ficar sem a câmara. “É muito perigoso”, alerta-me a guia de viagem pelas ruas esburacadas da capital, mais ainda, quando o clima de tensão voltou a subir devido ao espancamento do ministro dos Transportes e das Telecomunicações do Governo de Transição, Orlando  Mendes Viegas.  Aparentemente, a agressão e os ferimentos causados ao governante e um dos vice-presidentes do Partido da Renovação Social (PRS), a segunda formação política mais importante logo a seguir ao PAIGC, estão relacionados com a alegada privatização do sector portuário e as críticas sempre ferozes lançadas pelo poderoso Sindicato. Atento ao pulsar da capital, o guineense lá vai lutando pela vida, sempre difícil e penosa, mas sempre com uma ponta de esperança em dias melhores. “Eu acredito no futuro. Ainda vamos sair do fundo do poço”, dizia-me, ontem, um comerciante da Guiné-Conacri a viver na capital há vários anos. Seja como for os boatos circulam e o medo, sempre o medo de mais uma crise política e militar fazem parte do dia-a-dia. Há mais gente de rádio na mão a ouvir as notícias e mais polícia a efectuar controlo nas ruas. Relembro o filme de Kazan: em Bissau ”Há Lodo no Cais”.


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