Já escureceu em Bissau e não existe
iluminação pública. São 11 horas da noite e a temperatura continua alta. Estou
sentado na esplanada do antigo cinema de Bissau e só consigo ver a silhueta de gente
através dos neóns luminosos. E dos faróis dos carros, táxis Mercedes 200 pintados
de azul, milhões de quilómetros rodados no Senegal. De repente, acendem-se outras
luzes. Vejo circular jipes de todas as marcas e modelos, um Toyota Land
Cruiser, seguido do Tuareg, 6 lugares, vidros fumados, novinho em folha, cujo
preço no mercado automóvel atinge cerca de 100 mil euros. Por instantes, a
imaginação voa, talvez beba uma cerveja no centro de Londres, Nova Iorque. Será
que estou em Manhattan? Não. Estou diante das ruas esburacadas e com lixo por
todos os lados de um país de África, um dos mais pobres do Mundo. Como são
possíveis tantos sinais exteriores de riqueza?
Em tempo: a par dos negócios mais ou
menos escuros e da corrupção generalizada que atinge o aparelho de Estado, a Guiné-Bissau
transformou-se nos últimos anos numa placa giratória do tráfico de droga internacional.
Só não vê quem não quer. Aparentemente, quem governa o país é um governo de transicção
saído do golpe militar ocorrido em 2012, não reconhecido pela União Europeia e
Nações Unidas. Porém, são os militares, sempre os militares que tecem os
cordelinhos e decidem tudo. Têm as armas e agora, como não confiam nos
políticos que nomearam depois do golpe, controlam as finanças públicas. Todo o
dinheiro que entra nos cofres do Estado (contribuições e impostos) é recolhido diariamente.
O destino é uma incógnita. Num país de golpes e contragolpes, rumores e boatos em
série, os militares anunciaram a marcação de eleições para Março de 2014. Será
que a paz e a tão desejada normalidade democrática vão acontecer? A ver vamos.
Parabéns Amigo M. Vitorino pela BELA REPORTAGEM que aqui vais repartindo connosco.
ResponderEliminarSerá um enorme prazer voltar aqui para "beber" tão belas quanto tristes histórias.
Gaspar de Jesus