Sem nostalgias fui hoje ao porto de
Bissau, Pidjiguiti de triste e má memória, local de massacre de estivadores e onde
em 1973, desembarquei do navio Niassa, sete dias, sete noites pelo
Atlântico, desde Alcântara-Mar até atingir a costa africana. Parti de Lisboa
num final de tarde muito triste (dia 29 de Dezembro de 1973) e no cais ficaram
milhares de pessoas, um mar de lágrimas e emoção contagiante, lenços em sinal
de adeus. Antes do navio zarpar revejo outras imagens: as senhoras do Movimento
Nacional Feminino a oferecer maços de tabaco (que prontamente recusei) mais o padreco
salazarento a “abençoar” as tropas em parada com guia de marcha para a guerra, a
Banda do Exército a entoar marchas festivas, muitas fardas cheias de lustro, generais,
coronéis, majores, capitães.
Quarenta anos depois o porto de
Bissau mantém-se igual ao passado: velhos barcos de pesca atracados no molhe,
algumas LDG (Lanchas de Guerra) dos tempos coloniais, um cargueiro carregado de
contentores em manobras e no caminho para o cais, comerciantes tentando vender “peixe
fresco”, garrafões de vinho de caju, sacos de mancarra (amendoins) pacotes de bolachas,
cartões para os telemóveis. A polícia está atenta e vigia os passos do turista
acidental.
A geografia avivou outras memórias: nas
proximidades onde estou, Pidjiguiti, ficou tristemente célebre após um grupo de
estivadores e marinheiros ter organizado uma manifestação com exigência de aumento
de salários. Como se sabe, a iniciativa foi violentamente reprimida pelas autoridades
coloniais e o balanço trágico: 50 mortos e uma centena de feridos. O massacre
de Pidjiguiti aconteceu no dia 3 de Agosto de 1959. Só não bebi a famosa água
que, dizem, deixa qualquer pessoa “presa” ao país. O pássaro voador já só bebe
água bacteriologicamente certificada.
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