Entre o frenesim da caótica Bissau e a
tranquilidade da Associação Casa Emanuel a opção ficou feita desde o primeiro
dia de chegada à Guiné-Bissau. Aqui, no Centro Médico Emanuel vivo num luxo
espartano. A ligação à Internet está assegurada, bem como a existência de água
potável, gerador de electricidade, cozinha, refeitório, equipamentos que
traduzem qualidade de vida, sem contar com a existência de um hospital
materno-infantil, creche, infantário, escolas de diferentes graus de ensino onde
várias professoras ensinam o abc da vida a cerca de 150 crianças, meninos e
meninas, muitas delas abandonadas, sem
pais, mães, sedentas de atenções, sorrisos. No recreio da escola correm para quem
chega e estendem a mão. Por instantes, somos todos cúmplices, companheiros
desta aventura neste pequeno país de África, ciclicamente em crise de
identidade, palco de golpes palacianos, lutas trágicas de Poder.
No edifício construído com o apoio da
Cooperação Portuguesa uma frase de Amílcar Cabral traduz todos os sentimentos
da Humanidade: “Para que o teu filho viva feliz amanhã, num mundo dos teus
sonhos”. Lá fora, no barulho da grande cidade pouca gente saberá que, aqui a
vida tem outro sentido e o futuro escreve-se de maneira diferente. Ao viajar pela
capital restam poucas dúvidas e marcas do tempo colonial: a antigo Palácio da
Presidência da República só foi reconstruído graças à ajuda do governo chinês
(foi completamente destruído pela guerra em 1998); o Hospital Nacional Simão
Mendes está aberto, mas funciona precariamente, o velho Tribunal de Bissau
continua sem meios e sem dar resposta ao Estado de Direito que, a maior parte
dos guineenses idealizam, as ruas mais parecem uma cratera lunar com esgotos a
correr a céu aberto. O lixo amontoa-se na berma das estradas e não existe
qualquer tipo de planeamento urbanístico. A iluminação pública é uma miragem e,
por isso, andar nas ruas de Bissau à noite transformou-se ainda mais num
labirinto, uma aventura onde só alguns podem circular, onde o medo e a
insegurança andam de mãos dadas.
“As pessoas estão a viver sem dinheiro
há muitos meses. Os funcionários públicos já não recebem há vários meses. A
população começou a dar sinais de cansaço e desespero. A Guiné-Bissau é um
vulcão prestes a explodir”, assegura-me um viajante deste território
multicultural, várias viagens feitas ao país coabitado por várias etnias,
religiões, credos, tradições.
Indiferente aos rumores o comerciante
de arroz com loja aberta em frente ao mercado de Bandim deita contas à vida e vende
cada saco de 50 kg por 16500 Fcfa. Como o segredo é a alma do negócio não
responde a nada de nada. Só lhe interessa vender e clientes com dinheiro vivo à
vista. Como a conversa não enche barriga e falar de política é assunto que não
atrai muito o guineense, as atenções estão, agora, viradas para o recenseamento
eleitoral e o próximo acto eleitoral, talvez lá para Março de 2014.
Comentários
Enviar um comentário