“Estamos no limite das nossas forças”
Carlos Martinez, 28 anos, faz parte de
uma geração de portugueses nascidos e criados na Guiné-Bissau, muito antes da independência
em 1973. Filho de pai português da Guiné-Bissau e mãe colombiana, o empresário
já viveu e trabalhou na Europa, deixou para trás o bairro londrino onde viveu
algum tempo e regressou a África, à cidade de Bissau onde a família fez
negócios. “Estou cá por gosto, paixão
dos lugares e para ganhar a vida. Já foi bom viver cá. A vida continua a ser calma
e o clima bom, mas a crise económica mundial, mais o golpe de Estado ocorrido
no ano passado deitaram tudo a perder. Foi o descalabro total. Agora, vive-se
um dia de cada vez, sempre à espera de boas notícias, da tão almejada paz e
prosperidade”.
O patriarca da família Martinez entrou
na conversa e partilhou o pensamento do filho: “Muitos guineenses a viver no
exterior deixaram de enviar dinheiro para as famílias, ou porque perderam os
empregos, ou porque a crise económica abalou as finanças pessoais. Resultado:
os negócios baixaram para metade, entrou-se num círculo vicioso, a economia
estagnou e o consumo baixou. Nada é comparável ao que foi dantes. As pessoas
estão sem dinheiro para fazer compras”.
O futuro, sempre o futuro e a
esperança em dias melhores são desejos partilhados por pai e filho. O recente
anúncio de eleições marcadas para Março de 2014 e o regresso à “normalidade
democrática” constituíram uma espécie de bálsamo em dias melhores. “A curto
prazo vamos sobreviver. As eleições não vão resolver todos os males do país, quando
muito servirão de alavanca para o tão desejado desenvolvimento. Mas como é que
um país poderá captar investimentos sem luz eléctrica, água, rede de esgotos,
salários com atraso na função pública, professores em greve, taxas de
importação muito altas. Já reparou quanto custa viver em Bissau”?
O passado e o presente, as sucessivas guerras,
lutas de Poder, destruição e a corrupção generalizada no aparelho de Estado não
escapam às críticas. “A Guiné já foi numa terra promissora. Agora não. Já não
podemos descer mais. O país caiu num atoleiro. Resta esperar e acreditar que as
eleições vão ajudar a resolver alguma coisa, mas não podemos continuar a pensar
com o coração. Investimos tudo o que tínhamos, ganhamos a vida de forma honrada
e transparente. Estamos no limite das nossas forças”.
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