Como tristezas não pagam dívidas e a cultura de um país não se esgota (felizmente) no teatro ou nos concertos de música erudita, deixei o Porto por alguns dias e fui à romaria de S. Bartolomeu, em Ponte da Barca, festa profana e religiosa, uma das mais populares do país, milhares de forasteiros, emigrantes de várias gerações, famílias inteiras vindas de França, Alemanha, Luxemburgo, EUA, gente imbuída com sentido da festa e sentimento de partilha. Uma festança das antigas só comparável, por exemplo, às romarias de S. João d´Arga, na serra d´Arga e da Nossa Senhora da Peneda, uma das mais antigas do Norte do país, cujo santuário atrai devotos do Minho e da vizinha Galiza.
Em Terras da Nóbrega,
de antigos fidalgos, solares e palácios, a tradição cumpriu-se e manteve uma
vez mais a sua autenticidade no modo de fazer a festa, bem como na maneira de
representação dos seus usos e costumes. “Ainda não foi contaminada pelo rock e
pela cerveja”, dizia orgulhoso, Adolfo Ferreira, presidente da Comissão de
Festas de S. Bartolomeu de Ponte da Barca. Razões não faltaram. Além dos
ranchos folclóricos, do vistoso e imponente cortejo etnográfico, da bonita
procissão - que nem a chuva fez perder o brilho -, o que mais impressionou o
turista acidental foi a contagiante alegria sentida noite e dia. Num pequeno
território urbano nunca tinha visto tantos milhares de pessoas dançar pela
noite fora - por volta das 4 horas da matina a festança atingiu o auge - com 60 rusgas umas atrás das outras a
percorrer as ruas centrais da vila sempre com dezenas de tocadores de concertinas,
cantares ao desafio por alguns “habitués” das romarias de Norte a Sul do país. “Este
povo venera o S. Bartolomeu e não esquece as suas raízes culturais. É uma festa
genuína, autêntica. Muitos vêm de França e dos EUA para participar e
confraternizar nesta grande manifestação popular. A autarquia só faz o que lhe
compete: apoia e promove a sua realização”,
enfatizou António Vassalo Abreu, presidente da Câmara Municipal da Ponte
da Barca, sorridente e feliz pela romaria voltar a atrair milhares de pessoas
de várias partes do Mundo à histórica
vila.
Mesmo com crise e
olhares desconfiados quanto ao futuro, a festança para o ano está garantida. Na
próxima edição, prometo chegar mais cedo para ouvir melhor os cantadores ao
desafio.
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