No tempo em que o Homem nem sonhava ir à Lua e a
televisão não exibia programas pateta para enganar meninos, deixei-me apaixonar
pelo pomposo "concurso zoológico dos rebuçados Victória". Foi nos
anos 50 do séc. XX e durante muitos anos, envolvi-me pelos pequeninos desenhos
de imagens que, depois colava na caderneta distribuída gratuitamente à
pequenada. Ao todo eram precisos 200 minúsculos rectângulos para ter direito a
sonhar pelos "prémios grandiosos" da Cafezeira, situada na Rua de Fernandes
Tomás, no Porto e cuja festa realizava-se todos os anos no último domingo de
Junho. Sem campanhas de publicidade - a melhor era literalmente "boca a
boca" -, o concurso dos famosos rebuçados já tinha um lema: "Victória
vence porque dá o que promete".
Por isso e sempre que minha mãe dava dois tostões para a mão, lá ia eu a correr
de contentamento para a tabacaria do costume e comprava mais rebuçados.
Acrescentar mais "victórias" à caderneta foi sempre o objectivo, a
minha ambição suprema de criança, 7 anos, já com a 1ª classe feita na mui
religiosa e austera Escola de Jesus Maria e José, ao Monte de Pedral. Só que,
por mais voltas e trocas que tentasse fazer nunca consegui completar a façanha.
Razões: uma vezes faltava o "bacalhau", outras a "cobaia",
outras ainda o "cabrito" Ainda tentei acordos com os
"coleccionadores" e propus oferecer três ou quatro victórias em troca
de alguma em falta, mas nunca fui bem sucedido. Recordo-me, porém, de colar
desenhos de peixes e aves exóticas e a minha imaginação voar para bem longe,
tipo Patagónica. Outras vezes, caminhar por África ao desembrolhar dos
rebuçados os desenhos de animais de estimação e outros para ver ao longe, como
o leão e o tigre que, de vez em quando, admirava de olhos arregalados na jaula
do antigo Palácio de Cristal. Mas, também, juntei nomes bonitos como
"louva a Deus" e alguns de arrepiar, género "tira-olhos",
"percevejo", "sanquessuga", "lacrau".
Há dias, rejubilei de alegria e a emoção apoderou-se de mim quando, na habitual feira de velharias da Praça de Carlos Alberto, topei a famosa caderneta completa dos rebuçados Victória. E não resisti à nostalgia (ou sedução?) de comprar a preciosidade que, durante meio século não tinha conseguido chegar ao fim. Estava numa banca por entre carrinhos de chapa, bonecas de papelão e canetas antigas. Ainda hesitei no preço de venda, voltei a folhear uma, duas, três vezes. Por instantes, avivei memórias de infância e dos tempos em que descia no carrinho de rolamentos feito em madeira pela rua onde nasci - antiga Rua de Nogueira, hoje Rua do Padre José Pacheco Monte - e acabei por entrar no jogo. Custou-me os olhos da cara. Meio século depois de ter iniciado a única colecção de afectos, já tenho em casa as victórias da minha meninice e que faltavam no álbum das recordações.
Há dias, rejubilei de alegria e a emoção apoderou-se de mim quando, na habitual feira de velharias da Praça de Carlos Alberto, topei a famosa caderneta completa dos rebuçados Victória. E não resisti à nostalgia (ou sedução?) de comprar a preciosidade que, durante meio século não tinha conseguido chegar ao fim. Estava numa banca por entre carrinhos de chapa, bonecas de papelão e canetas antigas. Ainda hesitei no preço de venda, voltei a folhear uma, duas, três vezes. Por instantes, avivei memórias de infância e dos tempos em que descia no carrinho de rolamentos feito em madeira pela rua onde nasci - antiga Rua de Nogueira, hoje Rua do Padre José Pacheco Monte - e acabei por entrar no jogo. Custou-me os olhos da cara. Meio século depois de ter iniciado a única colecção de afectos, já tenho em casa as victórias da minha meninice e que faltavam no álbum das recordações.
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