Portugal é um país com enorme diversidade e riqueza gastronómica. Quer seja no Minho, em Trás-os-Montes, em Coimbra, no Alentejo ou Algarve, a maior dificuldade reside na escolha. Como sou viajante do Mundo tenho encontrado sempre em qualquer parte do país, na aldeia mais distante dos grandes centros urbanos, ou na vilória perdida no mapa, um restaurante, um tasco ou adega com pergaminhos na arte de bem servir. Geralmente, têm fama e proveito, clientes certos, amigos da boa mesa.
E como saborear um bom prato constitui um acto de cultura, vou
sempre que posso à descoberta das casas de bons comeres, muitas vezes, pretexto
aproveitado para melhor conhecer uma determinada região, o seu património e
tradições. Mas, nem sempre é assim. Alguns donos de restaurantes consideram um
favor servir o cliente à mesa e nem sempre cumprem a carta de intenções.
A última peregrinação do roteiro gastronómico teve como
paragem Santo Tirso. Entre o passeio ao núcleo antigo da cidade, mais a compra
dos afamados jesuítas na confeitaria Moura e a visita ao mosteiro e igreja da
Ordem de S. Bento, fui almoçar ao Restaurante O Cansêras. Entrei na porta errada
através de publicidade enganosa e como tal, prometo nunca mais lá voltar. O
filme dos acontecimentos conta-se a seguir.
O almoço contou com seis pessoas, mas transformou-se num enorme
aborrecimento, serviços mínimos de cozinha, nada condizente com o preço final: 213
euros, ou seja, quase 40 euros a cada comensal. Foi no dia 25 de Janeiro de
2014, no Restaurante Alentejano “O Cansêras”, em Santo Tirso. Tendo por lema
“Por si mudamos o Alentejo para o Norte”, seis amigos e amantes da boa mesa arriscaram
provar as ditas iguarias alentejanas. Para abrir o apetite foram servidas fatias
de queijo, paio, chouriço e pão. Preço: 12 euros. O primeiro “rond” foi tudo
menos líquido.
Depois das boas-vindas, o “chef” e dono da casa abeirou-se
do grupo com a carta de vinhos e sugeriu um “vinho biológico” (“feito com
uvas”, dixit) servido em jarro. Acolhida a sugestão verificou-se que, o dito
“vinho biológico” não tinha qualidade, muito menos textura e aroma apregoados pelo alegado especialista. Fez-se, então,
a pergunta óbvia: quanto custa um jarro de vinho? A resposta do patrão foi
pronta: 13 euros. Pela reacção, percebeu-se imediatamente não ter gostado da
“ousadia” cometida pelos clientes.
Foi mais um episódio, sabor amargo de uma refeição indigesta
e marcada como péssimo exemplo na arte de bem servir. Ainda antes da escolha de
outro vinho, um DOC do Alentejo, o dono do restaurante permitiu-se fazer
comentários pouco éticos sobre um néctar que, curiosamente, constava da lista
de vinhos. Como um dos comensais questionou a maneira desapropriada e infeliz
da apreciação feita – “se o vinho é de plástico, como diz, porque mantém à
venda no restaurante”? – o dito “chef” puxou dos galões e da grosseria: “Já não
sirvo mais nada à mesa”. A incorrecção (digo: má formação e educação) só foi resolvida
“in extremis” através da pronta intervenção da esposa que, ao aperceber-se do tom
da conversa tratou de colocar “água na fervura” e substituiu o dito “chef” de
servir às mesas.
Até ao fim foi quase tudo mau e para esquecer: as doses
escaldaram: 26 euros em média (para duas pessoas) e as sobremesas não lhe
ficaram atrás: entre 4,5 e 6 euros. Já só tive vontade de tomar café, participar
no pagamento da conta e sair rapidamente com os amigos certos no restaurante
errado. No final, a factura - ainda não incorporada com o programa informático
do Ministério das Finanças – fixou as seis refeições no valor de 213 euros,
quase 40 euros por cabeça.
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