“Acredito que o futuro será diferente”


Image de Eneida Marta: “Acredito que o futuro será diferente”







Eneida Marta aterrou no Porto e ainda mal refeita do cansaço da viagem entre Bissau e Lisboa, dos ensaios, gravações do seu último registo e das noites mal dormidas, a manhã passou-a a organizar os preparativos do concerto na CdM. A conversa foi curta, 15 minutos, já que o dia foi longo e vivido sem tempo a perder. O resumo do diálogo possível aqui fica.





Estar aqui numa sala emblemática do Porto também foi um sonho?
Sim, foi um sonho, como continua a ser um sonho sempre que piso outros palcos. A música da Guiné-Bissau é pouco conhecida e como tal, não quis perder esta oportunidade de poder mostrar o que faço e ajudar a divulgar a música do meu país.

O que pode fazer a cantora e também embaixadora da Unicef num país onde o índice de mortalidade infantil é assustador e onde a estruturas de saúde não dão resposta às populações?
Tento advogar a favor dos direitos das crianças e  chamar a atenção dos responsáveis  para os inúmeros problemas que existem na saúde, educação, alimentação. Faço missões no sentido de sensibilizar as comunidades para a mudança das mentalidades. Defendo princípios e causas e uma das quais, tem a ver com o casamento forçado de jovens meninas com homens muito mais velhos. É um problema tremendo.

A par de outras atrocidades, como a mutilação genital feminina e problemas relacionados com o abandono escolar, mortalidade no parto, mortalidade infantil…
Todas as causas são importantes. Tenho uma tarefa árdua. Fazer mudar as mentalidades é um problema. É um desafio fundamental.

A música pode ajudar as pessoas a serem um pouco mais felizes num país onde  a maioria vive no limiar da pobreza,  cerca de 2 dólares per capita, sem cuidados básicos de saúde, habitação, água inquinada dos poços… O que pode fazer?
Não vejo a Guiné-Bissau como um país onde se passa fome.  Está longe de ser uma realidade. Existem dificuldades, como em muitos outros países, mas temos um povo extremamente solidário. Somos um país muito rico em fruta e temos possibilidades de sermos alimentados daquilo que o país produz. Apesar dos esforços é fácil morrer na Guiné-Bissau.

Numa entrevista recente disse ter por objectivo mostrar a “verdadeira” Guiné-Bissau “porque sente que a sua imagem foi denegrida”. Por quem?
Por muita gente. Tudo o que acontece na Guiné é visto como negativo, mas tal não é verdade. As pessoas só falam das coisas más e esquecem as coisas boas.

A comunidade internacional até há pouco tempo olhava a Guiné-Bissau como um Estado falhado, um país transformado numa plataforma internacional do tráfico de droga internacional. Os relatórios das Nações Unidas confirmam este facto.
Prefiro não falar sobre este tema…

É sabido que a Guiné-Bissau é um país rico, não só do ponto de étnico e cultural, como também possui enormes recursos naturais, uma floresta com árvores centenárias e mares com enormes potencialidades no domínio das pescas. Mas estes recursos estão a ser explorados por chineses e soviéticos…
O novo Governo está a tentar mudar as coisas e acredito que o futuro será diferente. Estão a surgir novos investimentos  e cada vez mais existem empresários dispostos a ariscar. O novo governo saído das últimas eleições está a tentar resolver os problemas.

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