Os sonhos e utopias de Eneida Marta

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"Cada criança tem direito a ser criança. Tem direito à escola, à saúde e não pode ser forçada a casar. Eu felizmente sou criança”, recordou a guineense Eneida Marta, no concerto da Casa da Música (a 28 de maio, na Sala 2) destinado a promover o seu mais recente trabalho intitulado “Nha Sunhu”/Meu Sonho(Uguru; distri. Sony Music). Numa noite de memórias e emoções, a cantora homenageou a voz única de Miriam Makeba – e implicitamente, o seu exemplo de coragem na luta contra o “apartheid” – mais os poetas populares da sua pátria, a Guiné-Bissau de Amílcar Cabral.
Cantou em crioulo e na bagagem trouxe uma mão que a cheia de temas e composições, poesias, sons, utopias de um país sofrido e sofredor, há mais de 40 anos independente e dependente da ajuda internacional. Pisou o palco descalça (a fazer lembrar Cesária Évora) e começou com “Nha Mininessa”, um dos 14 temas do seu último registo discográfico.
Quando a banda deixou brilhar as sonoridades do Kora, o instrumento dedilhado pelo conhecido músico Ibrahima Galissa, a cantora não resistiu a ensaiar alguns passos de dança. O convite para a festa prolongou-se com “Tchilaku na Tabanka” e “África Tabanka Povo”, cujo poema traduz “um apontar do dedo às promessas não cumpridas pelos políticos”.
Seguidamente, interpretou outros registos do seu reportório, como “Sunhu di Koitadessa”, “Canta Tchuba”, “Nha Principe”, (“o meu país vai melhorar e tem tudo para ser feliz”), depois entoou “Amor Livre” e “Kabalindadi”, com Eneida a render-se diante da memória e da poesia de Renna Shwarz, “um compositor à frente do seu tempo”.
O show terminou como começou, com a palavras de esperança num país com futuro para todos, a começar pelos mais humildes, as populações que vivem nas tabancas e que, há mais de 40 anos continuam a ver negados os mais elementares direitos de cidadania.
Além da voz e percussões Eneida Marta esteve acompanhada por músicos de craveira e provas dadas: Juvenal Cabral, do grupo Tabanka Djaz (baixo e direcção musical), Ibrahim Galissa (Kora); Ciro Bertini (piano, acordeão e guitarra) e Tony Bat, percussão e bateria.
Sem ser um concerto vibrante, a “tournée” da cantora ao Porto e Lisboa (Culturgest) confirmou os dotes vocais e melódicos de uma artista em crescente maturidade, por muitos considerada uma das vozes mais criativas da lusofonia e, em especial da língua e cultura africana.

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