Galerias de arte do Porto: um retrato "à lá minute"


Contrariando expectativas menos otimistas, abriu há poucos meses, na rua D. Manuel II, a Galeria de Arte e Design Rui Alberto, cuja primeira exposição comissariada pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura deu a conhecer esculturas de Alberto Carneiro, mobiliário desenhado por Siza Vieira, serigrafias do próprio Souto de Moura e obras de José Guimarães, entre outras peças artísticas de coleção.
Galeria-Rui-Alberto_DRNos anos 60 e 70 contavam-se pelos dedos de uma só mão a existência de galerias de arte no Porto. No país dominado pela Ditadura do Estado Novo e onde qualquer sinal de modernidade era proibido, algumas das mais importantes manifestações artísticas da cidade estavam polarizadas em meia dúzia de corajosas instituições de resistência cívica e cultural: TEP, Cooperativa Árvore, “Os Modestos”, Cineclube do Porto, AJHLP, Unicepe e pouco mais. A oferta cultural era reduzida e viajava-se até Lisboa para ir à Gulbenkian admirar alguma exposição importante.
Nesta época, as galerias de arte tiveram um papel determinante na divulgação e promoção de jovens artistas, tendências e novas linguagens estéticas. Serralves ainda era uma miragem e só muito mais tarde, depois dos esforços de várias entidades e pessoas, entre as quais, será justo salientar o trabalho do curador, crítico e professor da Escola Superior de Belas Artes do Porto, Fernando Pernes (que o Porto ainda não homenageou como devia), foi possível sonhar com o futuro Museu de Arte Contemporânea.
Porém, com o andar dos anos, algumas galerias não resistiram às modas e a crise financeira ditou o seu fecho. Sem critérios de ordem cronológica recordo alguns espaços emblemáticos da cidade, como a Alvarez, fundada pelo pintor Jaime Isidoro, pioneira como lugar de experimentação para os jovens artistas acabados de sair das Belas-Artes; a Abel Salazar, na rua do Barão de Forrester (ficou na memória a “vernissage” do pintor João Martins); Nasoni, cujas salas apresentaram obras de Arpad Szenes, Vieira da Silva, Rui Chafes, Resende, Carlos Carreiro, entre inúmeros artistas consagrados. No mapa das galerias mais dois espaços de arte foram encerrados recentemente: a Galeria 2 e a Módulo, ambas na avenida da Boavista.
O ano de 2014 foi, ainda, fatal para a prestigiada 111, situada na rua D. Manuel II, quase em frente ao Palácio de Cristal. Por lá foram expostas obras de referência do século XX, Paula Rego, Júlio Pomar, Nikias, Ilda David, Menez, Resende, Luís Demée, Graça Morais, Ilda David, Eduardo Batarda, Ana Vidigal, entre muitos outros artistas nacionais e estrangeiros. Cada exposição transformava-se num acontecimento cultural. Fundada em 1964 por Manuel de Brito (1928-2005), a família do colecionador mantém a galeria do Campo Grande, durante muitos anos local das mais importantes exposições do país, mas também, ponto de encontro de políticos, artistas e inteletuais opositores do Estado Novo, palco de recitais de poesia de Maria Barroso, Ary dos Santos, Luís Miguel Cintra, encontros com Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Sophia de Mello Breyner Andresen.
Após o “boom” ocorrido há alguns anos em Miguel Bombarda, alguns espaços do Bairro das Artes deram lugar a outro tipo de negócios, enquanto outros resistem e são presença mais ou menos frequente nas Feiras Internacionais de Arte. Citem-se, como exemplos, as galerias Quadrado Azul, Fernando Santos, Isabel Cabral e Rodrigo Cabral, mais a Múrias Centeno, apostando cada vez mais numa lógica de internacionalização e descoberta de novos talentos artísticos.
Contrariando expectativas menos otimistas, abriu há poucos meses, na rua D. Manuel II, a Galeria de Arte e Design Rui Alberto, cuja primeira exposição comissariada pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura dá a conhecer esculturas de Alberto Carneiro, uma quantidade enorme de mobiliário, mesas, cadeiras, sofás e tapeçarias desenhadas por Siza Vieira (sem esquecer o fabuloso serviço de chá em porcelana e prata) à mistura com diversos trabalhos de Daciano da Costa, objetos de Adalberto Dias, candeeiros com design de João Machado, óleos sobre tela de Francisco Laranjo, serigrafias de Souto de Moura, obras de José Ribeiro, José Guimarães e esculturas de Paulo Neves, entre muitas outras peças artísticas de coleção. Esta mostra, batizada de “Rol 015″, pode ser vista até ao final do verão.
“Foi uma opção que vinha sendo programada desde algum tempo. Depois da saída do Arrábida Shopping [cujo espaço foi desenhado por Souto Moura] pretendi abrir uma loja junto ao Bairro das Artes. A crise existe, mas também pode ser vista como uma janela de oportunidades”, disse ao P24 o pintor Rui Alberto.
Será que o mercado da arte está a mexer? Ou as pessoas já só apostam em nomes seguros e capazes de gerar bons investimentos? A resposta segue dentro de momentos.


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