O mais jovem jornalista do Porto


Conheci o mais jovem jornalista do Porto através dos textos e reportagens, mais o Bom Dia, crónicas publicadas na última página do Jornal de Notícias. Eu tinha a paixão de ser repórter e entrar no mundo dos jornais; o Germano já era jornalista reconhecido entre os seus pares. Ainda tempos de Ditadura e Censura. Após o 25 de Abril de 1974, o destino, a curiosidade e descoberta levou-nos a partilhar os passeios promovidos pela Cooperativa A Erva Daninha (1) muito mais do que uma simples livraria e que, aos domingos de manhã, promovia visitas pelas ruas da Invicta, edifícios com história, património e gentes. Deu para perceber que, cada um à sua maneira tinham dois amores: o Jornalismo e o Porto.

Alguns anos depois, a minha paixão pelo jornalismo concretizou-se em O Primeiro de Janeiro, ainda dirigido pela escritora Agustina Bessa-Luís. Nesta altura, já Germano Silva gozava de um estatuto de prestígio entre a classe, ainda não existiam complexos pelo tratamento de “camarada” e as redacções não eram só lugares de trabalho, antes de amizade, companheirismo e afecto. Ainda hoje prefiro o barulho das máquinas de escrever ao silêncio (ensurdecedor) dos computadores…
Como a vida dá muitas voltas demito-me de O Primeiro de Janeiro e vou trabalhar para o Jornal de Notícias, cuja secção do Grande Porto foi, mais tarde, chefiada por  Germano Silva. Guardo as melhores memórias desses tempos, porque o jornalista e historiador não foi o chefe no sentido literal do termo, antes o cúmplice e o amigo que, sabia como poucos, aproveitar a formação, os gostos e as capacidades intelectuais de cada um de nós para a reportagem a efectuar.
Não foi preciso esperar muito tempo para ter uma certeza: não é chefe quem quer (ou quem lá é colocado pelos fretes políticos ou pessoais e ter a ilusão de Poder) mas quem sabe, tem passado, estatuto e partilha os segredos da profissão. Germano Silva  abriu-me as portas quando outros as fechavam e teve sempre o conselho sábio para quem o quis ouvir.
Foi um privilégio ter trabalhado com o Germano e ontem como hoje, continuo a seguir-lhe as crónicas dominicais no JN “À Descoberta do Porto” (a última sobre o Jardim de S. Lázaro é uma delícia…) e a ler os seus livros (mais de 30, ou 40?) um dos quais, intitulado “Porto, nos lugares da História”. Pois bem: eu tenho a certeza que, quem ficará na História do Porto será Germano Silva como um dos historiadores mais brilhantes da sua geração, um fabuloso contador de histórias e um dos poucos investigadores que sabe todos os segredos da cidade.
Parabéns ao cidadão ilustre e ao mais jovem Jornalista do Porto.

(1)    A Erva Daninha foi uma cooperativa livreira que funcionou numa galeria comercial da Rua da Conceição. Foi seu principal impulsionador e responsável António Campos. As minhas sentidas homenagens pelos momentos de prazer, descoberta e conhecimento.

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