O filme Soula, do argelino Issaad Salah (2021/França/Argélia) foi o grande vencedor do 26º Festival Internacional de Cinema de Avanca, cujo encerramento aconteceu no passado domingo. O júri distinguiu Soula como a melhor longa-metragem e, também, com o prémio para a melhor Fotografia (Arthur Fanget).
Nesta obra, o argumento mistura-se com a realidade, a história verídica de uma mãe solteira excluída da família, vítima de preconceitos e coragem para ultrapassar tabus e medos. “Um hino para todas as mulheres que se levantam contra as injustiças”, adianta a produção. O filme já foi distinguido pela Cinemateca Africana e Instituto Francês, durante o Final Cut, em Veneza.
“O prémio foi ao encontro das preocupações desta edição, ou seja, os deslocados e marginalizados a viverem nas franjas da sociedade. Sem ser um festival temático, o tema pairou durante o certame e só foi possível de organizar porque existe uma rede muito ligada e oleada, capaz de superar dificuldades, incertezas, uma grande equipa de voluntários. Sem eles, o festival não seria possível de realizar”, reconheceu, ao 7MARGENS António Costa Valente, director dos Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia.
Receberam menções especiais as longas-metragens Make-Believers, de Kenjo McCurtain (Japão) e Viagens em Cabeças Estrangeiras, de António Amaral (França) cuja obra recebeu, também, o prémio de Melhor Realizador e Melhor Actor, atribuído a Julien Darney. O prémio Curta-Metragem foi entregue ao filme Toutes les Nuits, de Latifa Said (França) igualmente distinguida com o prémio de Melhor Argumento, enquanto a curta-metragem Without You, do italiano Sergio Falchi, recebeu uma menção especial.
Na longa lista de prémios consta, ainda, a curta-metragem de Espanha Sorda, de Eva Libertad/Nuria Munoz (Melhor Som e Melhor Actriz, atribuído a Miriam Garlo), enquanto o prémio de animação foi atribuído a Aquamation, de Ho-yueh Chen (Taiwan). O filme Soula, de Salah Issaad (Argélia) e a curta-metragem Sorda, de Nuria Muños/Eva Libertad (Espanha) foram também os vencedores do prémio D. Quixote da FICC, instituído pela Federação Internacional de Cineclubes.
O prémio Estreia Mundial Longa-Metragem foi atribuído a José Luís Espinosa, O Espião, de Alfonso Palazon (Portugal) que, recebeu também o Prémio Competição Avanca, e o prémio Estreia Mundial foi atribuído a A Espuma e o Leão, de Cláudio Jordão.
Nos prémios Televisão, o documentário Nturudu/Um Carnaval sem Máscara, de Arlindo Camacho (Portugal), filmado na Guiné-Bissau, venceu o prémio da respectiva categoria, enquanto os filmes Espejismos (Miragens) de Alfonso Palazon (Espanha) e No País de Alice, de Rui Simões, receberam, respectivamente, uma menção honrosa. O prémio Estreia Mundial Televisão foi atribuído a Homebound, de Ismail Fahmi Lubis (Indonésia).
Por último, o filme Rapariga com um Espelho, de Nuno Dias, foi distinguido com o Prémio <30, destinado a realizadores com menos de 30 anos, e o filme de animação O Antiquário, de Manuel Matos Barbosa, foi distinguido com o Prémio Sénior. “É uma reflexão sobre a nossa vivência humana e onde ainda existe preconceito entre as relações entre as pessoas do mesmo sexo. A sociedade ainda não evoluiu o suficiente para encarar de frente esta questão”, reconheceu ao 7MARGENS o laureado realizador, autor de vasta filmografia no domínio do cinema de animação.
No fecho de mais uma edição, o Festival prestou homenagem às diversas pessoas e instituições que, desde a primeira hora, abriram as portas ao certame, desde a Escola Egas Moniz/Agrupamento de Escolas de Estarreja, até à Paróquia de Avanca, passando pelos diferentes executivos do Poder Local, e não esqueceu o apoio dos voluntários de diferentes nacionalidades, que contribuem decisivamente para a máquina do certame. Entre aqueles que marcam presença, contam-se o grupo de jovens e os professores Rui Nunes, Jorge Ramalho e Paulo Martins, docentes da Escola Profissional do Vale do Rio (Oeiras) que, têm a seu cargo não só a cobertura do certame, como entrevistas, gravações das apresentações de livros, transmissão via streaming e outras plataformas digitais. ”É uma semana de intenso trabalho e uma óptima experiência”, referiu Paulo Martins.
O ambiente foi sempre de festa: no salão paroquial e enquanto várias pessoas eram alvo de tributo, ouviu-se a Banda Musical de Antuã; no encerramento, pairou o convívio entre os diferentes realizadores, gente do cinema vindos de diferentes países e geografias. Para se ter uma ideia aproximada do Avanca 2022 bastará referir que foram exibidos 135 filmes de diversos formatos e 30 obras tiveram a sua estreia mundial.
“O Festival decorreu conforme estava planeado. Realizaram-se várias conferências, apresentações de livros, exposições, oficinas e workshops de criação artística e deu-se continuidade ao projecto Cinema/Escola. Foi mais uma edição de sucessos”, afirmou António Costa Valente, que agora só espera que as instalações do Cineclube de Avanca, em obras há mais de 20 anos por falta de financiamento e apoio por partes das entidades públicas (leia-se, Câmara Municipal de Estarreja e outros organismos com responsabilidades neste dossiê) decidam incluir nos seus orçamentos a referida empreitada. “Já não é sem tempo”, concluiu.
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